postado em 22/09/2016 07:30
A mostra competitiva por fim deu as caras e os trabalhos foram iniciados. Todas as noites, o Cine Brasília terá, provavelmente, casa cheia para conferir os filmes que disputam os Candangos. Mas nem só de competição vive o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Os seminários e palestras também costumam reunir os cinéfilos, embora talvez ainda não sejam prestigiados como deveriam.
O fotógrafo, diretor, roteirista e produtor Lauro Escorel, por exemplo, fala sobre direção de fotografia no Kubitschek Plaza Hotel, a partir das 14h30. Uma bela (e gratuita) oportunidade para escutarmos um dos mais premiados nomes do cinema nacional, que, inclusive, responde pelo curta Improvável encontro, exibido na noite de abertura.
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Outra iniciativa que deve (e merece) nossa atenção é a mostra A Política no Mundo e o Mundo na Política, que traz longas contundentes e evoca um debate político por meio do olhar cinematográfico. Alguns trabalhos convidados são esperados ansiosamente pelo público e devem render sessões inflamadas, como A cidade do futuro, que fala sobre o poliamor em pleno sertão baiano, e Entre os homens de bem, documentário que acompanhou o dia a dia do deputado Jean Wyllys por três anos.
Hoje, as apresentações ficam a cargo de Cristiano Burlan, com Estopô balaio, e dos irmãos Henrique e Marcela Borela, que aparecem com Taego Ãwa. Burlan marcou a última edição do festival graças ao comentado longa Fome, que traz um andarilho Jean-Claude Bernardet se arrastando pelas ruas submundas de São Paulo. Dessa vez, Burlan retrata a criatividade e a resistência de um coletivo artístico em se manter de pé frente a traumas sociais.
Resistência também permeia a jornada da tribo Ãwa. Depois de esbarrarem com cinco fitas VHS que registram algo sobre a cultura indígena da tribo, Henrique e Marcela resolvem resgatar essa história e apresentar um olhar inédito sobre o povo Tupi que mais resistiu à colonização no Brasil Central.
Estopô balaio
Hoje, às 15h, no Cine Brasília. Entrada franca
Taego Ãwa
Hoje, às 17h, no Cine Brasília. Entrada franca
Política de gêneros e preconceitos
Em primeiro plano, fica fácil supor que o longa Entre os homens de bem, de Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini, poderia ser confundido com uma peça publicitária e eleitoreira em prol do deputado Jean Wyllys, que inspira e protagoniza as filmagens. Um engano que os diretores fazem questão de refutar de imediato. ;Desde o começo, tínhamos consciência de que, nestes tempos tão conturbados, o filme poderia ser acusado de atender a interesses políticos. Mas fizemos um registro à distância, sem necessariamente intervir na ação, de forma a permitir que o espectador forme seu juízo de valor não só sobre o filme, mas sobre o próprio Jean Wyllys;, aposta Carlos Juliano.
De fato, o longa traz à tona uma questão maior que a atuação do parlamentar. A presença de um deputado assumidamente gay no Congresso Nacional, claramente, suscita uma série de debates relacionados ao preconceito, à diversidade e até mesmo à religiosidade. O cotidiano no Congresso, de alguma maneira, acaba por propor uma metáfora dos conflitos da sociedade. Pelo menos, assim intenta o filme, que estreia nacionalmente amanhã, como uma das atrações da mostra A Política no Mundo e o Mundo na Política. ;Acredito que conseguimos fazer um filme que aborda a gravidade do avanço do conservadorismo e do fundamentalismo religioso no Brasil, sem fazer propaganda gratuita do Jean;, completa Juliano. E nada melhor que o público para atestar ou questionar esse diagnóstico.
Entre os homens de bem
Amanhã, às 16h30, no Cine Brasília. Entrada franca
Trilogia cinematográfica sobre lixo
Inicialmente, a diretora Tânia Quaresma e a produtora Geralda Magela achavam que um único trabalho seria o bastante para suprir as indagações que elas carregavam sobre o lixo. Logo, perceberam que seria preciso muito mais que um só filme para abordar a imensidão da questão. O filme em si, Catadores de história, estreia no domingo e integra a Mostra Brasília do festival. O primeiro longa de uma agora trilogia sobre resíduos sólidos.
Mas o projeto acabou por transgredir as telas. Amanhã, a exposição Reflexões sobre o ;Lixo;, Consumo e Impermanência, que integra a iniciativa, que passar a ocupar a área externa do Museu Nacional até 7 de outubro. ;A ideia é provocar quem passar por ali a pensar sobre o lixo. As pessoas colocam o saco de lixo do lado de fora da porta e acham que o processo acaba ali. Pois ali é que o processo começa. Não cabe mais resíduo sólido no planeta. Temos que falar sobre isso;, alerta a diretora Tânia Quaresma.
No domingo, será a vez do longa ser apresentado pela primeira vez. ;Catadores de história não é um filme sobre os catadores de lixo, mas com eles. Tivemos o cuidado constante de levar as imagens aos catadores e perguntar se eles se sentiam representados;, conta Tânia. O trabalho foca, primordialmente, no lixão da Estrutural ; o maior lixão a céu aberto do mundo. Nos próximos anos, Tânia e Geralda filmam ainda O que é lixo e O lixo no planeta, encerrando o projeto que começou tímido mas que terminará grandioso.
Catadores de história
Domingo, às 14h, no Cine Brasília. Entrada franca