Festival de Brasilia 2016

Confira críticas sobre 'Ótimo amarelo', 'Quando os dias eram eternos' e 'Rifle'

Ricardo Daehn
postado em 23/09/2016 10:39


Polêmico, o lado roteirista de Lars von Trier despontou em Querida Wendy (2004), uma ode ao uso de armas, dirigida pelo dinamarquês Thomas Vinterberg. Atirar a esmo, por satisfação, dava o tom àquela fita. Seco e sem concessões, o cinema do jovem realizador gaúcho Davi Pretto segue caminho similar, ao fundir ficção e realidade, no longa Rifle, que acompanha o dia a dia do interiorano Dione (Dione Ávila de Oliveira).

[SAIBAMAIS]No filme, há quem conteste o valor de se tornar rico. E o que, de fato, pauta Rifle é a escassez. Ao Sul do país, cresce a mecanização do campo, o avanço da soja ;apouca; o espaço para o gado, e a sanha pela multiplicação dos grandes latifúndios se confirma. Dione, um peão comum, se vê em vasto espaço, mas despojado de possibilidades.

Revigorada pela efetiva sensação de realismo, a fita de Davi Pretto não se concretiza plenamente, pelos solavancos na montagem, que não informa tão linearmente os dados ao espectador. Na construção do justiceiro a la Sam Peckinpah, é possível entender a violência brotada em Dione. Tem falta de perspectivas, uma vez que é empurrado para fora do processo laboral ; ;Tem que trabalhar para receber (dinheiro);, um personagem sublinha ; e antevê que a cidade maior não seria oásis.

Apegado a raízes do meio rural, Dione refuta o tecnológico (atira contra os carros tidos por ameaça), em patológica atitude inconsequente. Largado em extensos campos, sinônimo de infertilidade, o protagonista parece personagem real da música Agora é pra valer (ouvida na trilha) que reforça: ;O tempo vai passando, e o vento leva tudo;.

Ótimo amarelo
De Marcus Curvelo

Da celebração da expectativa, com mudanças na vida, até a mirada para o passado, feita com certo apego, o diretor Marcus Curvelo constrói trama assentada numa Salvador em obras. Mas a narrativa do filme é inócua, tal qual o discurso de palanque de político baiano enxertado na fita.

Quando os dias eram eternos
De Marcus Vinícius Vasconcelos

Pela técnica da rotoscopia, o diretor brasiliense elabora um delicado e impactante relato de afeição e comprometimento materno. Comunhão, solidariedade e libertação rimam com poesia no filme em que, com a densidade de fios de cabelo, o cineasta conta rito de vida e morte.

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