Festival de Brasilia 2016

Confira as críticas dos filmes da terceira noite de mostra competitiva do Festival

'A cidade onde envelheço', 'O último trago', 'Solon' e 'Constelações' fazem parte da disputa do candango

Alexandre de Paula, Ricardo Daehn
postado em 25/09/2016 07:35
A cidade onde envelheço ###
<I><B>Marilia Rocha, diretora de A cidade onde envelheço</i></B>
Cercando mulheres numa condição de vida muito mais farta do que as retratadas no documentário A falta que me faz (2009), a diretora Marília Rocha não descarta o clima de suavidade, numa marca que vem desde Aboio (2005), capaz de amortecer o registro do dia a dia no sertão. Goiana radicada em Minas Gerais, Marília Rocha, no mais recente longa, intermedeia as relações entre as quase balzaquianas Teresa (Elizabete Francisca) e Francisca (Francisca Manuel), portuguesas encaminhadas, por diferentes destinos, ao Brasil.

[SAIBAMAIS];Aqui, as pessoas quebram as regras toda hora; é uma das coordenadas escutadas por Teresa, nos primeiros passos pelo país que lhe oferta coisas novas como rapé. Nos floridos figurinos criados por Thaís de Campos, Teresa acusa o desprendimento crescente em relação a Lisboa. A intensidade de sua vida aponta para a serenidade impressa no roteiro solto (frouxo, na verdade), a cargo de Rocha, Thaís Fujinaga e do estreante João Dumans. Ainda longe das marcas do tempo, as personagens têm uma página em branco pela frente. Fartas de fado, na inter-relação (algo brumosa), as moças, ao menos temporariamente, trocam o disco. A diretora capta momentos ternos que envolvem a dupla, bem como o alargamento de perspectivas das protagonistas e a modulação de sentimentos que vivem. A cidade onde envelheço, entretanto, não se concretiza por completo, pendendo para um esboço.

O último trago ##


Produzir cinema de arte envolve riscos. Hermetismo, pretensão e gratuidade são espectros que rondam toda produção que se propõe a ser artística e experimental. Quando essas barreiras são quebradas, obras-primas aparecem; quando não, a impressão que fica é que a vontade foi maior que o talento. O longa O último trago, apresentado no terceiro dia de mostra competitiva do festival, pertence ao segundo grupo: o grande time tentou, mas não chegou lá. Envolto em uma proposta experimental e sensorial, a obra tem cenas fortes e bons momentos, que, porém, esbarram na gratuidade e na ausência de liga entre as cenas. Se há um elo claro e sólido para os realizadores, ele não chega à tela, e o que o espectador vê é uma série de eventos desconexos.

Vale a ressalva: até parece haver uma tentativa de criar uma conexão sutil. Entretanto, ela não se estabelece. Os problemas talvez fiquem mais evidentes pela pobreza do roteiro. Coberta de uma contestável profundidade, assiste-se a uma abordagem frágil e boba. Os personagens também não convencem, já que nenhum deles é trabalhado com a profundidade necessária, o que piora com os diálogos fracos e a direção de elenco problemática. O último trago tem o mérito de ser um risco, um tiro visceral em busca de um cinema diferente e potente. Infelizmente, fracassa na pretensão de tentar navegar em águas muito distantes e, na verdade, naufraga.

Solon ##
A partir da ideia de enxergar um mundo novo, para além das paisagens repletas de minérios, a diretora Clarissa Campolina produz um filme difícil, sem falas e com fotografia e estética impactante. Se fica a impressão de que tudo é obscuro demais em Solon, também permanece a de que a diretora ainda tem muito o que mostrar.

Constelações ###
Da naturalidade no expressivo rosto do protagonista Renato Novais Oliveira até o talento do diretor e roteirista Maurílio Martins, em preencher até quadros estanques, o curta mineiro agradou. Contando a história de um rapaz desnorteado, o cineasta opta pela lida com fator surpreendente. Perturba na medida.

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