Festival de Brasilia 2017

Protesto contra a cura gay no palco do Cine Brasilia

O curta "Afronte" trata de racismo e de direitos LGBT e foi exibido justamente na semana em que um juiz permitiu que homossexuais fossem tratados como "doentes"

Nahima Maciel
postado em 20/09/2017 20:51
O curta
O início da noite foi de protesto no quinto dia do Festival de Brasília. A equipe do curta Afronte, de Marcus Azevedo, subiu ao palco para apresentar o filme que participa da Mostra Brasilia e aproveitou para defender os direitos das minorias. O curta trata de racismo e de direitos LGBT e foi exibido justamente na semana em que o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho derrubou uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe profissionais da área de tratar a homosexualidade como uma doença.
"A justiça do DF liberou que se trate gays e lésbicas assim podendo fazer terapia de regressão sexual", lamentou Bruno Victor, produtor de Afronte. "Nós, bichas pretas população LGBT, estamos sendo privados do nosso direito de amar uns aos outros. Diariamente, o estado e a sociedade querem controlar nossos corpos. Nós, que somos bichas pretas, sofremos duplamente esse preconceito. Estamos aqui no Cine brasilia pra falar que a gente existe. Homofobia é doença, racismo é doença", continuou Bruno.

Afronte traz depoimentos de homossexuais negros do Distrito Federal e fala sobre a dupla discriminação sofrida por essa população. "É um filme que fala sobre resistência, afeto, ancestralidade, sobre nossa história pra que a cada dia a gente tenha mais desejo de luta, explicou Marcus Azevedo, diretor do curta.

A Mostra Brasilia também contou nesta quarta (20/09) com os curtas Habilitado para morrer, de Rafael Stadniki, e A inviolável leveza do ser, de Julia Zakarewicz. O longa da mostra foi Jeitosinha, de Sérgio Lacerda e Johil Carvalho. O filme conta a história de um menino criado como menina é que não sabe ser um garoto. "É um filme que fala sobre amor e, nesse momento do Brasil, a gente merece e precisa amar sem temer", disse Bianca Müller, que vive a Jeitosinha do título.
O protesto continuou no palco do Cine Brasilia durante a apresentação dos filmes da Mostra Competitiva. Maria Menabia, produtora do longa o Nó do Diabo, lembrou que o filme foi realizado durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. "Foi gerado a partir de um edital de TVs públicas e por várias circunstâncias era pouco provável que conseguíssemos mostrar na TV pública. É um filme construído, literalmente, durante o processo de golpe", explicou. O filme transforma um antigo engenho em cenário de terror e usa o gênero para falar de escravidão.

A equipe do curta Tentei, filme sobre a violência doméstica, celebrou o fato de ter um time formado inteiramente por mulheres. No curta, Gloria, uma mulher simples, tenta denunciar os abusos do marido, mas não consegue seguir adiante. "Tava aqui ouvindo minhas amigas falando sobre isso que a gente vivencia cotidianamente, e como são questões que a gente está vivenciando todos os dias", reparou Laís Melo, depois de ouvir a fala das colegas da equipe.

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