"A premiação da 50; edição do Festival de Brasília valorizou o papel do prêmio Candango", sublinha o secretário de Cultura Guilherme Reis, quando o tema é o balanço do evento que, por 10 dias, encheu o Cine Brasília de público. A sensação geral é de vitória, na avaliação dele: "Tivemos um belo festival, com avanços importantes na gestão. Pela primeira vez, com a iniciativa privada, o patrocínio foi ampliado e auxiliou até no volume de premiação".
Na perspectiva de um novo caminho, Reis reforça o crescimento da programação, prevista para ter repeteco, em 2018, "com a atualização da grade e incorporação dos 10 dias como padrão". Livre da corrida por prêmios em dinheiro, com maior relevância para o troféu Candango, o evento apostou em cachê dividido entre as equipes de filmes participantes. "Afirmamos uma visão mais democrática", explica o secretário de Cultura.
Curadores e produtores de eventos em âmbito nacional foram convidados para discutir meios de aquecimento para o mercado de cinema. "É o momento de buscar coproduções, e, em três dias de encontros, valorizamos o aspecto negocial da criação em cinema", observa o secretário. Na perspectiva, pitching (com defesa oral de projetos) veio a beneficiar, ao menos, dois realizadores brasilienses: Iberê Carvalho e Santiago Dellape.
"Num ciclo de discussões com empresas do porte do Canal Curta, Cine Brasil Tevê e Canal Brasil, pude fechar o orçamento do meu novo longa, O homem cordial. Com aporte de R$ 500 mil, concluímos o montante de R$ 2,7 milhões", comemorou Iberê Carvalho. Nesse ambiente, em que representantes de eventos internacionais vieram garimpar novos projetos em andamento, estivessem eles em fase de roteiro ou nas filmagens, outro projeto brasiliense despontou: o futuro segundo longa de Dellape (Saçurá).
Os números de instalações físicas e a produção de material gráfico do festival cresceram no atual evento. O secretário destaca, ainda, a configuração de um ambiente de mercado. O novo segmento Futuro Brasil do evento revelou filmes nacionais em finalização para um seleto grupo de interlocutores de festivais estrangeiros, como os de Munique (Alemanha), Bafice (Argentina) e de Sundance (Estados Unidos). Foi proposta, a partir daí, a futura circulação de fitas nacionais em janelas estrangeiras de eventos de cinema.
Mudanças
"A Mostra Brasília ficou poderosa e apertada nesta edição. Vivemos um novo momento do festival, com tanto crescimento. Tenho avaliado e acho que talvez tenhamos que mexer mesmo no horário dela. É, na verdade, uma dinâmica a ser discutida no âmbito da Câmara Legislativa do DF (responsável pela premiação)", avalia Guilherme Reis.
No balanço, 8 mil pessoas circularam pelas atividades de cinema, em 12 regiões administrativas do DF. A incorporação de apresentações de DJs auxiliou "no processo em construção" de aproximação com as demais cidades do DF. Foram 64 atrações musicais e houve geração de 170 empregos, num quadro em que 400 pessoas se envolveram na organização da festa.
[SAIBAMAIS]Num terreno nobre, a futura instalação do Polo de Cinema (no Setor de Clubes Sul), anunciada durante o festival, agradou a classe artística. "As futuras discussões, passado o evento, serão em torno da formação de quadros técnicos e criativos. Além disso, há demanda da implantação do conselho consultivo do Festival de Cinema, numa proposta de avanço na política do audiovisual, garantindo a estabilidade na formatação do evento", conclui Guilherme Reis.
Três perguntas/ Eduardo Valente, diretor artístico do Festival
Qual o recorte visto na competitiva?
O Festival de Brasília tem uma característica clara na seleção dos filmes, que é abordar aquilo que atualmente está acontecendo na sociedade. E essa imersão de novas vozes no cinema revela justamente a necessidade de trazer as questões que mais são abordadas atualmente dentro de uma sociedade: a representação de gêneros, raças e a igualdade. O cinema brasileiro possui uma grande variedade de opções para essas representações, e nosso papel é de dar esse espaço para que as pessoas possam ver e refletir.
Faltou filme político?
Talvez o que tenha faltado seja um filme diretamente político do Brasil de hoje. Mas a política, em si, se mistura em várias coisas, e uma delas é dentro do cinema. Os filmes da mostra competitiva, todos eles se relacionavam de uma forma ou de outra com a política, com questões de representações e igualdade. Arábia, Era uma vez Brasília e O nó do diabo são todos filmes políticos.
Por que houve a ausência da velha guarda de cineastas?
Há um lado meio natural de se ter menos filmes da velha guarda. No Festival de Gramado teve pouco, no do Rio, idem: há um número menor, estamos tendo poucos inscritos, no caráter da velha guarda, e alguns desses produtores preferiram seguir outros caminhos.