postado em 18/09/2012 07:00
O curta-metragem documental do cineasta pernambucano Marcelo Pedroso abre a mostra competitiva de documentários do 45; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro hoje, em sessão a partir das 19h. O curta-metragem Câmara escura relaciona um tipo de cinema colaborativo formado em aliança entre o realizador e atores sociais. O mesmo método havia sido experimentado por Pedroso no longa-metragem Pacific, lançado no ano passado, quando passageiros de um cruzeiro para Fernando de Noronha foram convidados a compartilhar as imagens captadas pelas câmeras amadoras e incluídas na montagem do filme. Abaixo, entrevista completa com o cineasta:Entrevista// Marcelo Pedroso
A sinopse de Câmara escura parece indicar um documentário poético, trabalhado com a projeção de imagens de um modo parecido com a Caverna de Platão. É isso mesmo?
Na verdade, não é bem isso. A sinopse não traduz com clareza a proposta do filme e isso é intencional mesmo: ela se refere à descrição do funcionamento da câmara escura, princípio elementar da fotografia. No filme em questão, nós entregamos caixas contendo câmeras filmando em algumas casas do Recife. A entrega era aleatória e anônima. O filme passou a se construir entre a tensão das entregas e a tentativa de recuperar as imagens.
Em Pacific (segundo longa-metragem da carreira de Pedroso, lançado no ano passado), os cinegrafistas conversam com a câmera e não são poucos os planos em que aparecem refletidos em espelhos. Entender a formação da imagem e torná-la evidente no filme é uma questão importante para você?
Sim, a gênese da imagem é algo que mobiliza alguns dos filmes que fiz. Talvez seja uma forma de tentar entender ou experimentar os contextos de produção que a condicionam.
Você já assinou dois longas-metragens na carreira. Por que fazer um curta-metragem agora?
Já estou no terceiro ou quarto curta depois dos longas. Não entendo isso como uma escala irrecuperável como se o longa-metragem fosse a meta e o curta servisse como uma espécie de escada que você precisa ir subindo até chegar ao longa. Cada filme deve ter o formato e duração mais adequado à sua realização. Já fiz inclusive um média-metragem, filme de 46 min, que foge completamente da lógica dos formatos de cinema e tenho, inclusive, feito vários vídeos de curtíssima duração para a internet.
Você faz parte do coletivo de cinema Símio Filmes. Trabalhar em grupo é uma questão de sobrevivência ou catalisador de criatividades?
É um pouco das duas coisas. Uma organização produtiva que não é regida pela lógica predominante do lucro, da produtividade. trata-se de um arranjo afetivo que leva em conta as subjetividades das pessoas envolvidas, as potências que surgem coletivamente. Na Símio, somos amigos antes de ser um coletivo. Tocamos os projetos a partir dessa órbita, como pessoas que estão juntas pelo prazer e suportando juntas também os desprazeres. um de nossos grandes prazeres é fazer filmes, soa muito natural que estejamos juntos fazendo isso. Temos feito há dez anos!