A segunda noite de competição do 45; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é feminina atrás e diante das câmeras. Em comum, os dois longas-metragens da noite enquadram mulheres sob perspectivas sociais e políticas. No documentário Kátia (Piauí), Karla Holanda condensa 20 dias de filmagem num relato de 74 minutos sobre a primeira travesti eleita para um cargo político no país. Lúcia Murat, grande vencedora de 1989, com Que bom te ver viva, retorna à competição em novo filme estrelado por Irene Ravache, que na 22; edição dividiu o Candango de melhor atriz com Andréa Beltrão (Minas Texas). Ambientado nos dias atuais, A memória que me contam (Rio de Janeiro) recupera a experiência de 1968 por meio das lembranças de personagens que viveram os tempos de revolta política e frequentaram os porões da repressão militar.
A diretora carioca propõe uma trama sobre sonhos e perdas da militância brasileira de esquerda. Por isso, Ana, a personagem central, que está internada no hospital à beira da morte, aparece sempre como uma jovial guerrilheira, interpretada por Simone Spoladore. O estado precário de saúde motiva um reencontro de vários de seus amigos do passado na sala de espera do hospital, como Paolo (Franco Nero), italiano exilado no Brasil, a intelectual Zezé (Clarisse Abujamra), o professor Ricardo (Otávio Augusto) e o Ministro da Justiça José Carlos (José Carlos Machado).