Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro

Integrantes das equipes de filmes do festival falam ao Correio sobre as produções

Ricardo Daehn
postado em 24/09/2012 09:29

>>Yale Gontijo

Numa dessas injustiças históricas, nos primórdios do cinema brasileiro, a iniciativa de bravos cineastas pioneiros de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco foi tomada, de forma isolada, por ciclo regional. O processo foi segregador em relação à cinematografia nacional. Nos últimos anos, a emergência dos cenários pernambucano e mineiro vêm promovendo inversão histórica. Em especial, a seleção competitiva do 45; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro apresenta o resultado do florescimento cinematográfico de Pernambuco com sete filmes (entre documentário e ficção, curtas e longas) participando nas categorias competitivas.

A convite do Correio, os realizadores pernambucanos concorrentes Marcelo Lordello (diretor de Eles voltam), Isabela Cribari (produtora executiva de Boa sorte, meu amor, de Daniel Aragão), Luiz Otávio Pereira (roteirista de Boa sorte), Leonardo Lacca (preparador de elenco de Boa sorte), Marcelo Pedroso (diretor de Câmara escura) e Pedro Severien (diretor de Canção para minha irmã e produtor de Boa sorte) revelaram os segredos que cercam o bom desempenho do cinema pernambucano contemporâneo e, entre outras coisas, comentaram a relação com o Festival de Brasília.

Nessa enxurrada de filmes pernambucanos vocês percebem uma tentativa de unidade?
Pedro Severien ; Acho que não tem uma linha estética ou estilo que una esses filmes. Existe a união de um grupo que valoriza certo cinema pessoal, com expressão do autor, que não se prende a uma fórmula testada e que garanta algum tipo de êxito. A gente arrisca muito e conta com o outro no sentido de provocar entendimento do trabalho. A gente mostra o filme disposto a ouvir.

Leonardo Lacca ; O que percebo na troca com amigos que fazem cinema, especialmente no Rio e em São Paulo, é a pressão do mercado que faz com que se arrisque menos. Em Recife não há isso. Não há a obrigação ou imposição dos produtores. A pressão vem dos amigos, mas é saudável, é troca de ideias, diálogos estéticos. O que sai de Pernambuco realmente são filmes autorais, com personalidade. Claro, tem filmes ruins também.

Vocês dizem que não há fio condutor na estética. Mas existem temáticas parecidas, como o confronto de classes, especulação imobiliária e ocupação do espaço urbano. A classe média é muito discutida. Como essas preocupações se refletem na arte?
Lordello ; Não dá para você se desconectar do que está ao redor. E se você descascar um pouco da estrutura social, cultural, o processo histórico que a gente vive lá, alguns temas vão gritar. Acho que a influência do feudalismo, da cana-de-açúcar, está presente hoje em uma cidade que parece se modernizar, mas que carrega as mesmas relações de poder opressoras e complexas. O cinema, por se sensibilizar, acaba captando isso. Que bom que tem captado isso, e de diferentes formas, porque aí não se cria um só olhar sobre aquilo, como se fosse a tentativa de construção de uma verdade dogmática.

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