postado em 24/09/2012 13:44
Com sete filmes na disputa das mostras competitivas do 45; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, os cineastas de Pernambuco foram o grande destaque dessa edição e superaram o número de participações dos estados que ocupam tradicionalmente o eixo da produção cinematográfica do país, Rio de Janeiro e São Paulo.Mas não foi só a quantidade de produções pernambucanas que chamou a atenção do público. A qualidade dos filmes, que começaram a ser exibidos no dia 11 e terminaram nesse domingo (23/9) na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, também despertou o interesse dos cinéfilos da cidade.
Um dos destaques nordestinos foi Boa Sorte, Meu Amor, do diretor pernambucano Daniel Aragão. O longa-metragem de ficção, filmado em preto e branco, apresentou à plateia que ocupava os mais de 1,3 mil lugares do teatro o encontro amoroso de Dirceu e Maria, nascidos no sertão pernambucano, e moradores do Recife, capital do estado, cujo resultado é o resgate da vida particular de cada um dos personagens.
Para Aragão, a receita do boom pernambucano nas mostras tem ingredientes muito claros. ;Acho que a gente tem uma certa união, a gente é muito conectado, se encontra muito, consegue ser sincero um com outro, sem ranço, falamos a verdade sobre os filmes, sobre os pontos que talvez a pessoa possa melhorar;, disse, ressaltando que esta não é uma cultura presente entre os cineastas de São Paulo, por ser uma cidade muito grande, ou do Rio de Janeiro, ;onde as pessoas são muito cordiais mesmo quando não precisam ser;.
[SAIBAMAIS]Mas, sinceridade não é o suficiente para alavancar o segmento. O próprio Aragão admite que os incentivos públicos têm sido fundamentais para movimentar as produções locais. Anualmente, os cineastas pernambucanos contam com R$ 12 milhões reservados para o cinema. ;Ainda é pouco dinheiro, mas como o cinema é independente e mais barato, com certeza temos seis a oito longas, por ano, aprovados para produção;, avaliou o diretor.
A injeção de investimentos também é reconhecida como ferramenta de estímulo pelo diretor Marcelo Gomes, apontado como referência entre os cineastas da nova geração de Pernambuco. Além da lei de fomento à arte, Gomes acredita que o crescimento no número das produções do estado é resultado da ;garra e da vontade de fazer cinema das novas gerações;. ;Acho que é também uma continuidade de tradição como berço cultural que Pernambuco sempre manteve nos séculos passados.;
No outro lado da balança nas mostras competitivas estavam Minas Gerais, com uma única produção de longa-metragem totalmente mineira, e o Distrito Federal. Dos 600 títulos inscritos para as competições, 103 eram produções da capital do país. Na seleção final, apenas um filme brasiliense entrou na disputa: A Ditadura da Especulação.
Um dos diretores do curta-metragem documentário produzido para mobilizar a população da cidade em torno da situação de um novo bairro em construção na capital Alan Schvarsberg declarou que ainda não sabe o que falta para o cinema brasiliense conquistar mais espaço nas disputas principais do festival. Schvarsberg reconhece que os investimentos em Pernambuco são superiores ao da capital federal, ;aqui temos R$ 6 milhões por ano;, mas, ainda sim, afirma que as produções brasilienses têm qualidade para competir.
;Fazer filme é muito caro, muito difícil e, para além destes investimentos, faltam salas de cinema na cidade. O cinema aqui é reflexo da exclusão cultural. As salas de cinema que temos estão no Plano Piloto e, quase exclusivamente, em shoppings;, disse o cineasta. Segundo ele, as produções brasilienses têm crescido significativamente, mas não há locais de exibição para esses filmes. ;Só temos o Festival de Cinema e algumas mostras, mas não temos um circuito permanente para escoar essa produção.;
As produções do Distrito Federal têm, ao menos, um espaço reservado no Festival que assegura a disputa de títulos locais. A Mostra Brasília teve, este ano, a 17; edição com prêmios que totalizam R$ 200 mil.
Apesar de reconhecer que a competição tem impulsionado o segmento na capital, diretores como Johil Carvalho, que apresentou Hereditário em parceria com Sérgio Lacerda, no segundo dia da Mostra Brasília, ainda lamenta a baixa participação das produções do Distrito Federal nas competições principais. ;Temos filmes de qualidade, bem produzidos e que teriam plena capacidade de entrar nas mostras competitivas do Festival;, disse.
A indignação também foi compartilhada com o público. Para a arte educadora, Sheila Cobelo, os 45 anos de Festival de Brasília já deveriam ter impactado com uma maior participação das produções locais no evento. ;Mas acho que a arte, de modo geral, é vista como não necessidade. Enquanto não enxergarmos como algo que faça parte de nós mesmos, o cinema, a pintura, a dança vão estar sempre em segundo plano;, criticou.