Ricardo Daehn
postado em 26/09/2012 07:05
Festejada ao som de frevo, a premiação do 45; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro desembocou num empate. Sintomático, por sinal: ;Agora, acho que aqui tem mais pernambucano nesse palco do que na feira de Caruaru e no carnaval de Olinda juntos;, comemorou Marcelo Gomes, diretor do melhor filme Era uma vez eu, Verônica (reconhecido ainda pelo júri popular e outros quatro troféus), ao lado de Eles voltam (Marcelo Lordello). A tríade pernambucana, na comissão de frente da entrega dos prêmios Candango, foi completada pelo melhor diretor, Daniel Aragão (Boa sorte, meu amor). ;Há uma garra muito grande nessa renovação apresentada. Uma vontade de refletir o que é viver fora do eixo Rio-São Paulo: o Brasil é muito mais do que uma via Dutra;, sintetizou Marcelo Gomes. Ele se disse, em chacota, suplantado pelo discípulo Aragão (melhor diretor), iniciado em cinema, num set que comandou.[SAIBAMAIS]Experiente, com Cinema, Aspirinas e Urubus na filmografia, Gomes deu indicativo de tanta atenção ao cinema pernambucano: ;Tem uma lei de fomento que financia roteiro, produção, finalização e comercialização. Anualmente, isso ajuda os cineastas. Há algo também que começou lá no passado, com Baile perfumado (1997), a produção foi aumentando e a gente troca muitas figurinhas entre diretores. Um até ajuda no roteiro do outro;. Ainda deslocado do ;ser cineasta; nacional, Daniel Aragão sublinhou o incondicional apoio de estado. ;Não sou cineasta brasileiro: sou cineasta pernambucano. Por quê? Porque todo meu filme foi captado com dinheiro de Pernambuco, R$ 800 mil. Tentava há cinco anos grana, na escala nacional, mas não consegui;, observou.
Juntas as produções pernambucanas acumularam 16 prêmios no certame brasiliense. O feito incluiu opções arriscadas como a de Marcelo Lordello (Eles voltam, vencedor de filme em ficção, atriz, atriz coadjuvante e láurea da crítica), em torno do amadurecimento de uma menina largada na beira de uma estrada pelos pais. ;Não falo de vanguarda, mas trouxemos filmes com grande vontade autoral e percebemos que a economia produtiva do cinema dá fruto;, comentou Lordello. Feito com R$ 47 mil, Eles voltam teve desempenho surpreendente até para o realizador. ;Pensei ; ;caramba, festival premiando filme tão simples, singelo e de modulação menor?;. Ou seja, o filme comunicou. Algo importante foi a inclusão de atores não profissionais. São intérpretes que trazem energia que a gente nem sabe mensurar ou racionalizar. Neles, vejo o frescor;, disse o realizador.