Fim de Ano 2012

Crônica de fim de ano: Sem choro e nem vela

postado em 31/12/2012 07:00
No palco de Brasília, os atores costumam ser políticos. O Congresso Nacional aparece como pano de fundo recorrente. A cidade entretém o público com um enredo prolixo. Ainda assim, os acontecimentos locais sempre pautam as discussões afora. Um dos atributos da capital federal.

A plateia, porém, estava inquieta. Revirava-se nas poltronas desconfortáveis (possivelmente, da Villa-Lobos). Os brasilienses clamavam por uma nova montagem, produção inédita, um musical, quem sabe. E 2012 presenteou Brasília com uma programação revigorante e um final apoteótico. A epopeia não poupou qualquer sentimento. Destarte, para garantir uma vibrante reviravolta, alguns episódios infortúnios foram agregados à história.

Coadjuvantes tesourinhas andavam tristes com a desolação de seus personagens. Largadas ao léu, inflaram-se de água e causaram um reboliço inesperado. Tornaram-se protagonistas. Não agradaram. Espera-se que, na sequência, possam receber a atenção devida e não mais dependam do encharque para serem notadas. Por um instante, a seca pareceu deixar saudades.

Contudo, não coube nem à aridez, nem às tesourinhas, o momento mais árduo da narrativa. Como proceder quando o ator principal se despede e não há suplente à altura? A morte de Niemeyer deixou o palco vazio. Iluminação apagada ("Céu de Brasília / Traço do arquiteto"). Um silêncio inédito. Interrompido, apenas, por um choro contido vindo do fundo da sala.

Peças com finais tristes não costumam congregar muitos adeptos. Na adversidade intransponível, apenas figuras heróicas parecem capazes de alterar um roteiro fadado ao fracasso. E ela veio. Assim que apareceu, alguns olhares se cruzaram, como se dissessem : ;Acho que já a vi;. Parte do público não a reconheceu. Todos a notaram. Quando soltou a voz, Ellen Oléria arrebatou Brasília. Quem saiu da sala, voltou. Ninguém ousou ficar sentado. Nem Joaquim Barbosa, atento espectador.

A catarse gerada tomou conta de todas as gerações, de cada eixo, entrequadra, satélite. Uma Brasília unida para gerir a dor de uma perda e celebrar a alacridade de uma chegada monumental. A política foi para os bastidores. Acabou restrita às coxias. A cidade das Cássias, Renatos e Zélias, estreia uma nova página. Não faltam diretores, roadies, coreógrafos, produtores e figurantes para preenchê-la. A fila, do lado de fora, está longa. O espetáculo é imperdível e está prestes a começar. Abram as cortinas.

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