Rafael contou que saíra do posto avançado do batalhão brasileiro, o Posto Forte 22 - a chamada Casa Azul -, cerca de dez minutos antes do terremoto. ;Estávamos no jipe, na avenida perto do aeroporto, quando sentimos o tremor e vimos um muro cair.; Sem ter muita ideia do que havia acontecido, o tenente diz que eles resolveram voltar ao posto. ;Assim que nos aproximamos, vimos que a casa estava no chão.;
Na Casa Azul, a única construção na rua com mais de um piso, estavam dez dos 14 soldados que morreram no Haiti. Eles eram do 5; Batalhão de Infantaria Leve (BGL) de Lorena, interior de São Paulo. ;Começamos a cavar com as mãos para tentar tirar da terra nossos companheiros;, conta, lembrando dos momentos de desespero. ;Infelizmente, muitos já haviam perdido a vida.;
A casa tem três andares e a maior parte dos sobreviventes estava no último andar, onde ficavam os beliches e a área de descanso. ;Estava no beliche, dormindo. Acordei no meio da terra, quase coberto pela laje;, diz o cabo Michael Pimentel de Almeida, que sofreu escoriações no corpo e um corte na cabeça. Ao lado do pai, Carlos, e da mãe, Cristina, o cabo desembarcou do avião da FAB afirmando que pretende voltar ao Haiti. ;Eles precisam de nós;.
Até janeiro de 2007, a Casa Azul era o ponto de onde os criminosos haitianos atacavam os militares da Minustah, a força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Era um local estratégico que permitia controlar a entrada e saída da capital haitiana pela principal ; e uma das únicas ; estrada do país. Sua conquista permitiu que as tropas entrassem em Cité Soleil, a maior favela haitiana, até então um lugar intransponível para os soldados.