Agência France-Presse
postado em 21/01/2010 10:49
O presidente do Haiti, René Preval, e seu primeiro-ministro, Jean Max Bellerive, justificaram nesta quinta-feira (21/01) a impressionante - e criticada por muitos - mobilização dos Estados Unidos em seu país para ajudar nas tarefas de socorro das vítimas do violento terremoto que causou até o momento a morte de 75 mil pessoas.
"Os americanos estão aqui a nosso pedido e vieram para nos ajudar em nossas necessidades humanitárias e de segurança", afirmou Bellerive à rádio francesa RTL.
"Todos concordam em dizer que a ajuda dos diferentes exércitos em um contexto controlado e coordenado e através do diálogo é algo bem-vindo no Haiti", acrescentou o chefe de Governo haitiano, indagado sobre a críticas surgidas em vários países contra a presença ostensiva das tropas americanas no país caribenho devastado pela catástrofe.
O presidente Preval explicou, por sua vez, em uma entrevista publicada nesta quinta-feira no jornal francês Liberation que as tropas americanas que aterrissaram esta semana no perímetro do palácio presidencial - derrubado pelo terremoto - contavam com seu consentimento para fazer isso.
Segundo ele, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, o consultou se estava de acordo que militares americanos especializados poderiam ser enviados ao país. "Eu disse que sim", afirmou Preval, descartando que a ação das tropas americanas representavam uma invasão e violação da soberania, conforme muitos críticos chegaram a afirmar.
Os Estados Unidos mobilizaram 11 mil soldados no Haiti para as tarefas de resgate, segurança e distribuição de ajuda aos flagelados e já anunciou que enviará mais 4 mil efetivos.
"O Haiti não está sob tutela de ninguém", afirmou Preval, ao ser indagado sobre uma proposta lançada na semana passada por um deputado francês da direita no poder, Jacques Myard, de colocar o Haiti sob o regime de tutela das Nações Unidas.
Preval assegurou, além disso, que o Haiti não possui qualquer bloqueio ideológico para aceitar ajuda tanto dos Estados Unidos, como da Venezuela ou de Cuba.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticou a presença de soldados americanos afirmando que "o império norte-americano está tomando o Haiti sobre os cadáveres e as lágrimas de seu povo".
"Começaram pelo aeroporto. Se entrarmos no destruído palácio presidencial do Haiti, encontraremos os marines dos Estados Unidos", denunciou Chávez.
"Tomaram o Haiti descaradamente sem consultar a ONU, a OEA. Estão se aproveitando da tragédia desse povo", acrescentou.
O presidente boliviano, Evo Morales, também expressou "seu repúdio e indignação porque não é possível que os Estados Unidos usem uma desgraça natural para invadir e ocupar militarmente o Haiti".
Na terça-feira, centenas de haitianos assistiram, entre reações de resignação ou revolta, à impressionante aterrissagem de vários helicópteros das tropas americanas no Palácio Presidencial, num ato considerado por muitos como uma perda da soberania.
Na semana passada, o presidente Barack Obama colocou todo o poderio dos Estados Unidos a serviço do Haiti e mobilizou um impressionante dispositivo de ajuda.
"Ao povo do Haiti, dizemos com clareza e convicção: vocês não serão abandonados, não serão esquecidos", declarou.
Obama ofereceu "todos os elementos de nossa capacidade nacional, nossa diplomacia, e a assistência ao desenvolvimento, o poder de nossas forças armadas e, o mais importante, a compaixão de nosso país".
"Vocês conheceram a escravidão e a luta contra os desastres naturais. E, apesar de tudo, nunca perderam a esperança. Hoje, saibam que a ajuda chegará", declarou Obama.