Renato Alves
postado em 23/01/2010 08:59
Enviado especialPorto Príncipe ; Há cinco anos, as Forças Armadas brasileiras atuam como líderes da tentativa da comunidade internacional de estabilizar o Haiti. Na manhã de ontem, cumprindo esse papel, realizaram a maior operação de ajuda humanitária (1) militar às vítimas do terremoto que devastou boa parte do país no último dia 12. Cerca de 5 mil famílias receberam 10 toneladas de alimentos e 22 mil litros de água, de forma ordenada. Os militares calcularam ter atendido 5 mil famílias. ;A quantidade recebida por cada um é suficiente para alimentar uma família de quatro pessoas por dois dias;, explicou o coronel Alan Sampaio Santos, do serviço de comunicação do Exército Brasileiro no Haiti. Cada pacote de donativos incluía, entre outros itens, leite, atum e apresuntado. Entre os beneficiados, estava o desempregado Alan Pierre, 25 anos, pai de três filhos. A família perdeu tudo no terremoto. ;Só não perdi a vida.; O haitiano mora, agora, embaixo de um lençol suspenso por corda na Praça de Marte, em frente ao palácio, com os filhos e milhares de desabrigados. ;Obrigado pela ajuda, brasileiros;, dizia.

Para completar, o comandante das forças da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (Minustah), general Floriano Peixoto Vieira Neto, compareceu à operação e entregou água e comida às vítimas. Ele não titubeou quando questionado se as forças da ONU estavam à frente do socorro às vítimas da catástrofe. ;É bom que se destaque que, no controle dessa situação caótica, encontra-se aqui uma representação brasileira. Desde 2004, o comandante das forças é um general brasileiro, que tem sob seu comando o maior efetivo das tropas, o contingente brasileiro;, afirmou o oficial. E completou: ;Eu tenho o comando e o controle da situação de segurança completamente estabelecido.;
Responsabilidade
Enquanto os militares brasileiros entregavam os donativos ao redor do palácio, helicópteros norte-americanos pousavam no gramado interno do prédio. À tarde, o secretário-adjunto de Estado para a América Latina, Arturo Valenzuela, afirmou que os Estados Unidos ;respeitam a soberania; do Haiti e que as críticas ao seu ;protagonismo; no atendimento às vítimas do terremoto ;são simplesmente erradas;. Com previsão de chegar a 20 mil (2) militares norte-americanos no Haiti até amanhã, ele assegurou que os EUA trabalham ;em colaboração; com as forças da ONU e com o governo local. ;Os EUA respeitam a soberania do Haiti. Estamos lá porque os haitianos nos convidaram, nos pediram, e temos uma responsabilidade moral de ajudar esse país;, disse Valenzuela, após um fórum organizado pela Câmara de Comércio norte-americana.
Sem mencionar os países que também acusam os EUA de ;invadir; o Haiti, Valenzuela indicou que se trata de uma ;crítica simplesmente errada, que provavelmente ignora a realidade;. Dessa forma, o diplomata respondeu as críticas de governos de esquerda de países como Nicarágua, Bolívia e Venezuela, que acusaram os EUA de realizarem uma ocupação militar no Haiti, aproveitando-se da tragédia causada pelo terremoto. ;Os trabalhos dos capacetes azuis das Nações Unidas, liderados militarmente pelo Brasil, e das Forças Armadas dos EUA foram fundamentais para as operações de resgate, limpeza, distribuição de ajuda e reconstrução a longo prazo;, destacou o representante do governo Barack Obama. Ele disse ainda que as forças americanas trabalham em estreita colaboração com a Minustah, enquanto os planos de emergência e recuperação são executados pelo governo haitiano.
Na tentativa de minimizar as críticas à falta de cooperação no trabalho de socorro ao Haiti, militares brasileiros e norte-americanos participam hoje de mais uma operação de entrega de alimentos e bebida. Ela será realizada em Cite Soleil, a mais populosa favela do miserável Haiti, o país mais pobre das Américas.
1 - Mais ajuda
Até agora, militares brasileiros distribuíram 125t de alimentos e 84 mil litros de água às vítimas do terremoto. Três carretas com 11 mil litros de água, vindas da República Dominicana, chegam hoje à base do Brasil em Porto Príncipe para doação, com 22t de alimentos.
2 - O dobro da ONU
Os 20 mil soldados norte-americanos nas tarefas humanitárias no Haiti estarão tanto em navios quanto em solo. O número é mais que o dobro dos cerca de 9 mil militares que formam a força da ONU, cujo maior contingente é o brasileiro, que contava com 1.266 homens no dia do terremoto. A ONU aprovou o envio de mais 3,5 mil homens para sua missão, e o Senado brasileiro votará na próxima semana o envio imediato de 900 homens, com uma reserva de mais 400.
DOAÇÕES E VOLUNTÁRIOS
Cerca de 150t de medicamentos e insumos para vítimas do terremoto no Haiti foram enviados ontem, pelo Ministério da Saúde, à Base Aérea do Rio de Janeiro. O material será enviado para o país caribenho nos próximos dias. No dia 29, os primeiros profissionais de saúde voluntários serão embarcados em um porta-aviões italiano que chegará a Fortaleza e seguirá para o Caribe, para garantir atendimento à população haitiana. O porta-aviões funcionará como hospital no Haiti, e ficará sob as orientações da missão brasileira. A equipe de civis brasileiros voluntárias será composta por cirurgiões, enfermeiras e anestesistas, entre outras especialidades. Eles ficarão cerca de 30 dias a bordo, quando haverá troca de equipe. Dois dias antes do embarque, previsto para o dia 29, devem passar por um breve curso de instrução. A expectativa é que o porta-aviões permaneça no Haiti por cerca de nove meses. A primeira turma deve sair dos hospitais federais do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
