Haiti

Sobreviventes do terremoto no Haiti rezam por seus 112 mil mortos

Agência France-Presse
postado em 24/01/2010 15:29
PORTO PRÍNCIPE - Os haitianos se reuniram neste domingo nos locais de culto do país que continuam de pé para rezar e chorar pelos 112 mil mortos do terremoto do dia 12, na véspera de uma reunião de emergência em Montreal para coordenar a ajuda humanitária. Centenas de haitianos se reuniram nos arredores da catedral de Porto Príncipe em ruínas na manhã deste domingo (24/1) para rezar, cantar e lançar um apelo à reconstrução. Depois deste dia de orações, os "países amigos" do Haiti, entre os quais o Brasil, os Estados Unidos e a França, se reunirão para fazer um balanço da situação e coordenar a ajuda, antes de preparar a reconstrução do país. A Espanha, as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA) também estarão presentes em Montreal. Outra conferência sobre o Haiti está prevista para março. "Não vamos reconstruir o Haiti de forma idêntica. Teremos que resolver os problemas estruturais. Não será um exercício apenas financeiro, vamos falar de governança e de cooperação regional", afirmou uma fonte diplomática francesa. Mais uma vida foi salva no Haiti, com um homem de 25 anos sendo retirado sábado dos escombros de Porto Príncipe, depois do fim oficial das operações de resgate decretado pelo governo haitiano. "Estou bem", disse Wismond Exantus, socorrido por uma equipe francesa auxiliada por americanos e gregos depois de passar 11 dias sob os escombros. O homem contou que estava preso em um vão onde podia se mexer e bater em objetos para chamar a atenção. Ele sobreviveu bebendo Coca-Cola e comendo "algumas coisinhas". No total, 133 pessoas foram resgatadas dos escombros pelas equipes internacionais desde o terremoto, que deixou 112.226 mortos, mais de 194 mil feridos e um milhão de desabrigados. As equipes com material leve começaram a deixar o país, mas as que vieram com equipamento pesado passaram a ajudar na remoção dos escombros. De acordo com o ministério haitiano do Interior, metade das casas de Porto Príncipe, Jacmel e Leogane, as três cidades mais afetadas pelo tremor, estão destruídas. Em Porto Príncipe, os habitantes continuam enterrando seus mortos, e a vida está, aos poucos, voltando ao normal em alguns bairros. Muitos ambulantes instalaram suas mercadorias nas calçadas da parte alta da capital, tumultuando o trânsito. A distribuição de alimentos, água, barracas e medicamentos se intensificou. Quase 610 mil pessoas estão alojadas em 500 acampamentos, e mais de 30 hospitais com capacidade operatória estão funcionando. Alguns incidentes foram registrados. Sábado, soldados brasileiros da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah) tiveram que atirar para o alto e lançar bombas de gás lacrimogêneo para conter um tumulto que começou durante uma distribuição de ajuda em Porto Príncipe. A porta-voz do Escritório de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), Elisabeth Byrs, mencionou um "incidente isolado", e destacou que poucos casos de violência têm sido observados durante as operações humanitárias. "É normal que haja incidentes isolados deste tipo, provocados pela exasperação e o desespero", comentou. "A situação continua sob o controle da Minustah. Estes atos de violência não são representativos do povo haitiano. A população tem se mostrado calma e digna", afirmou. A polícia haitiana se prepara para horas difíceis: a corporação perdeu muitos homens no terremoto, e muitos criminosos que estavam atrás das grades aproveitaram a catástrofe para fugir. Cerca de 4 mil detentos conseguiram fugir da penitenciária principal de Porto Príncipe, que fica em Cité Soleil, o bairro mais pobre e mais perigoso da capital haitiana. O líder cubano Fidel Castro denunciou neste domingo a "ocupação" militar americana no Haiti. A presença na ilha caribenha do contingente americano, que deve chegar a 20 mil homens esta semana, já foi criticada pela Venezuela, pela Bolívia e pela Nicarágua. Nos Estados Unidos, a maratona de shows animada pelo ator George Clooney, que reuniu artistas como Wyclef Jean, Madonna, Bruce Springsteen, Jennifer Hudson, Beyoncé, Coldplay e Bono Vox, permitiu arrecadar 58 milhões de dólares em doações para o Haiti.

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