;Meus colegas americanos: não perguntem o que seu país pode fazer por vocês; perguntem o que vocês podem fazer por seu país. Meus colegas cidadãos do mundo: não perguntem o que a América pode fazer por vocês, mas o que, juntos, podemos fazer pela liberdade do homem.; Diante do juiz Earl Warren, chefe da Suprema Corte dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy tornava-se o 35; presidente dos EUA, aos 43 anos, em 20 de janeiro de 1961. Um dos discursos mais famosos de todos os tempos dava início a um mandato curto, marcante, repleto de façanhas e de simbolismo, no tenso período da Guerra Fria. Apenas 1.036 dias depois de sua posse, três tiros transformaram Kennedy em mito e mergulharam o país no luto. JFK era a personificação de um sonho dos pais, o embaixador americano no Reino Unido, Joseph Patrick ;Joe; Kennedy, e a filantropista Rose Elizabeth Fitzgerald.
Católico, o único presidente não protestante da história dos EUA soube incorporar valores culturais americanos e usar o passado militar como instrumento para angariar apoio contra a Guerra do Vietnã. O affair com a atriz Marylin Monroe e a amizade com o cantor Frank Sinatra potencializaram sua capacidade midiática e tornaram-no um ícone popular. ;John Kennedy era jovem, vibrante e cheio de promessas quando se tornou presidente. Os Estados Unidos se sentiram da mesma maneira, enquanto nação. O país emergiu da Segunda Guerra Mundial como potência militar e econômica, a opinião pública sentia-se confiante, e Kennedy refletia esse sentimento;, afirmou ao Correio Cal Jillson, cientista político da Southern Methodist University.
A figura de Kennedy começou a ser forjada nos cenários da Boston histórica e do idílico Porto Hyannis, a 114km da capital de Massachusetts. Ambos eram o pano de fundo perfeito para uma história que entraria no imaginário popular. Filho de rica família irlandesa, JFK passou parte da adolescência na escola para garotos Choate, em Wallingford (Connecticut), onde gozava de grande popularidade e, nas horas de folga, dedicava-se aos hobbies que o acompanhariam: o tênis, o basquete, o futebol americano, o golfe e a leitura. À exceção de história e do inglês, ele não se destacava nas demais disciplinas.
Segundo o chefe dos professores de Choate, Jack ; como era conhecido ; tinha uma mente ;engenhosa e individualista;. JFK abasteceu sua verve democrata em 1936, após ser aceito pela respeitada Universidade de Harvard, onde se graduou em ciência política, quatro anos depois. Durante a faculdade, uma visita à Inglaterra e a outros países da Europa surtiu profundo impacto nele, e o fez mais interessado em história e política. Joseph Kennedy celebrou a formatura do filho enviando-lhe um telegrama, desde Londres. ;Duas coisas que eu sempre soube sobre você. Primeiro, você é esperto. Segundo, você é um cara genial. Amor, papai;, escreveu.
Dos corredores acadêmicos, tomado pelo patriotismo, JFK decidiu se alistar na Marinha. Os Estados Unidos impulsionavam a campanha dos aliados para derrotar a Alemanha de Adolf Hitler e as demais potências do eixo, Itália e Japão, na Segunda Guerra Mundial. Kennedy foi o comandante do banco torpedeiro PT-109, atingido por um torpedo disparado de um destróier japonês, na noite de 2 de agosto de 1943. Mesmo gravemente ferido, Jack salvou vários de seus colegas. ;A experiência naval, durante o conflito, o conectou com famílias impactadas de modo intenso pela guerra;, admitiu à reportagem Mark Kennedy, ex-parlamentar na Câmara dos Deputados e cientista político da George Washington University. A mesma batalha que lhe permitiu um ato de heroísmo impôs-lhe o luto e a dor. O irmão Joe, dois anos mais velho, morreu após a explosão de seu bombardeiro.
Política
Ao fim dos combates, depois do suicídio de Hitler e da capitulação japonesa, JFK ingressou no mundo da política. Em 1952, durante um jantar promovido por seu Partido Democrata, o então deputado por Boston ; cargo ocupado por seis anos ; foi apresentado a Jacqueline Bouvier, uma escritora do Washington Times-Herald, que estava noiva do investidor John Husted. Eles se apaixonaram, Jackie pôs fim ao relacionamento com Husted e o novo casal trocou alianças de compromisso em 25 de junho de 1953. John Kennedy já era senador por Massachusetts, posto ao qual foi eleito em 1952, após derrotar o republicano Henry Cabot Lodge Jr.. JFK e Jackie casaram-se em Rhode Island, a 12 de setembro de 1953.
Os primeiros anos de vida conjugal foram marcados pela tragédia, que acompanharia a família Kennedy para sempre. Jackie sofreu dois abortos, antes de dar à luz Caroline, em 27 de novembro de 1957, e John Fitzgerald Kennedy Jr., em 25 de novembro de 1960. Três anos depois, o bebê Patrick morreu 48 horas após o parto. Durante a convalescença de uma cirurgia na coluna, em 1955, incentivado pela mulher, JFK escreveu o livro Profiles in courage, com o qual ganhou o Prêmio Pulitzer. A carreira no serviço público deu uma guinada em 1960, quando venceu as primárias democratas e tornou-se candidato à Casa Branca.
O presidente Kennedy deu novos ares, menos formais, à Casa Branca. Ele deixava-se fotografar sorridente e batendo palmas, enquanto os filhos John Jr. e Caroline corriam pelo Salão Oval ou se escondiam sob a mesa de despacho. A menina também se divertia com o pônei Macaroni, criado à solta nos jardins da residência oficial. Como político, destoava dos rivais republicanos Dwight Eisenhower e do vice Richard Nixon, que comandaram os Estados Unidos entre 1953 e 1961.
;JFK se destacou em vários aspectos. Algumas de suas posições foram amplamente admiradas. Muitas mostraram-se bastante controversas, como o corte de impostos, o apoio aos direitos civis, a confrontação da expansão militar soviética em Cuba e a defesa por uma América assertiva no cenário mundial;, explicou o cientista político Mark Kennedy. JFK rompeu com o segregacionismo e o passado escravocrata do Sul e pavimentou caminho para a aprovação de uma lei dos direitos civis. Ao mesmo tempo, os homens do staff presidencial eram qualificados por ele de ;os melhores e mais brilhantes;. Todos da cor branca.
Cal Jillson admite que havia um grande senso de animosidade direcionado a JFK, principalmente procedente dos estados sulistas. ;Eu não creio que o assassinato de Kennedy tenha sido resultante de uma conspiração incitada por suas políticas. Alguns conservadores pensavam a política externa de JFK confiante demais na União Soviética, enquanto viam as políticas domésticas e de direitos civis como um ataque ao privilégio estabelecido;, comenta.
A preocupação em avançar a liberdade para além das fronteiras dos Estados Unidos era latente. ;Se homens e mulheres estão em cadeias, em qualquer parte do mundo, então a liberdade está em perigo;, declarou, certa vez, o presidente, antes de definir o papel da América. ;Nós nos levantamos pela liberdade. Essa é a nossa convicção para nós mesmos. Esse é nosso compromisso com os outros.; Mesmo que para isso os Estados Unidos se vissem à beira de uma hecatombe nuclear, risco agravado com o fracasso à Baía dos Porcos, em Cuba. Na mira de Washington, o ditador Fidel Castro emprestou seu território para apontar os mísseis atômicos soviéticos em direção ao norte.
Foi no governo de Kennedy que a Guerra Fria impulsionou a corrida espacial. O governo de Nikita Krushchev tinha obtido grandes avanços na astronáutica, com a viagem orbital em torno da Terra de Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961. JFK propôs o desafio de enviar o primeiro homem à Lua, 43 dias depois, diante de uma sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado, no Capitólio. ;Eu creio que esta nação deve comprometer-se em alcançar a meta, antes do fim desta década, de pousar um homem na Lua e trazê-lo de volta à Terra, em segurança;, declarou. A profecia de Kennedy se cumpriu em 20 de julho de 1969, quando a Apollo 11 tocou a superfície lunar.
Midiático
O primeiro presidente da era da televisão tinha um ponto fraco: mulheres. A mídia sabia que Kennedy era infiel a Jackie. No entanto, não ousava mencionar esse detalhe. A biografia The precious few days (;Os poucos dias preciosos;), assinada por Christopher Andersen, revela que a atriz Marilyn Monroe foi chamada à Casa Branca e admitiu à primeira-dama o relacionamento com JFK. Jackie respondeu: ;Marilyn, você se casará com Jack, isso é ótimo. Você se mudará para a Casa Branca e assumirá as responsabilidades de primeira-dama. Eu sairei e você ficará com os problemas;. Segundo a biografia, a mulher de JFK teria confessado a um médico sobre a ;vida sexual inadequada; do marido. ;Ele (Kennedy) vai rápido demais e pega no sono.;
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Dez dias antes do penúltimo aniversário de JFK, em 19 de maio de 1962, as televisões transmitiram uma celebração pelo 45; ano de vida do democrata que acabou aumentando os rumores. Marilyn cantou ;Parabéns para você; e trocou a frase para ;Parabéns, senhor presidente;, exagerando no timbre sensual. O suposto caso com a atriz contribuiu para amplificar o interesse na figura do presidente. Um político carismático, determinado, aferrado às suas convicções e galanteador.