Jonh F. Kennedy

"Ele inspirou uma geração", diz professor de Columbia sobre Kennedy

Para Richard Pious, o grande legado de Kennedy está na política doméstica, na atitude tomada em relação à segregação racial e no desafio aos americanos para "explorar novas fronteiras"

postado em 21/11/2013 09:35
John F. Kennedy marcou época, nos Estados Unidos e no mundo, em um período de efervescência política e cultural, atuou como pivô de um momento crítico da Guerra Fria ; a crise desatada pela descoberta de mísseis nucleares soviéticos em Cuba ; e apontou o caminho para a distensão e o diálogo entre as superpotências. Mas, na opinião do professor de ciência política Richard Pious, da Universidade de Columbia, o grande legado de Kennedy está na política doméstica, na atitude tomada em relação à segregação racial e no desafio aos americanos para ;explorar novas fronteiras;. ;Ele inspirou uma geração de americanos a ir para o serviço público e para o trabalho voluntário;, disse ao Correio Pious, autor de vários livros sobre a Presidência americana.



Qual a importância de JFK em um momento crítico da Guerra Fria?

Kennedy iniciou a presidência com uma posição de confronto com a União Soviética e seus aliados, especialmente Cuba. Mais para o fim da administração, porém, ele já estava em entendimento com os soviéticos sobre Cuba, Berlim e o Laos, negociando um acordo para banir os testes nucleares e se preparando para iniciar conversações sobre vários temas da Guerra Fria. Sua morte prematura significou um revés para essa política de diálogo, que só seria retomada nos últimos estágios da presidência de (Richard) Nixon. Kennedy apontou o caminho, mas não fez a diferença crucial para baixar as tensões da Guerra Fria.

Como ele exerceu sua liderança na crise dos mísseis?

A decisão mais importante que Kennedy tomou durante a crise foi ignorar os conselhos da maioria dos ex-combatentes (da Segunda Guerra) ; seus principais conselheiros de segurança nacional ; que queriam um confronto militar com os soviéticos. Em vez disso, ele concordou com negociações secretas que levaram a um ;toma lá dá cá;: os soviéticos tirariam os mísseis de Cuba e os EUA removeriam os seus da Itália e da Turquia. Os soviéticos concordaram que o entendimento não seria tornado público, o que permitiu a Kennedy e a seu secretario de Estado dizer que os soviéticos haviam recuado. Na verdade, ambos os lados recuaram ; uma decisão tomada por Kennedy e Krushev (Nikita, líder soviético) que salvou o mundo da destruição nuclear.

Na política doméstica, o principal legado é a Lei dos Direitos Civis?

JFK fez um sério esforço para mudar as relações raciais nos EUA. O Departamento de Justiça insistiu no fim da segregação em diversas universidades do Sul. Kennedy impulsionou a Lei dos Direitos Civis (sancionada pelo sucessor) e fez um grande discurso sobre justiça racial, em 1963. Em vários aspectos, ele via o fim da segregação e a justiça social pelo prisma da Guerra Fria: como os EUA poderiam ganhar influência no chamado terceiro mundo se a lei da discriminação reinava nos estados do Sul?

Meio século depois daquele período de efervescência sócio-cultural, os EUA ainda vivem discussões sobre discriminação racial no governo de primeiro presidente negro. Isso tem ligação com JFK?

A melhor maneira de pensar a conexão entre Kennedy e os eventos de hoje é que ele representa mudança, o avanço rumo a uma nova fronteira. O legado duradouro da sua retórica foi a advertência: ;Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país;. Ele inspirou uma geração de americanos a ir para o serviço público e para o trabalho voluntário. Ele ainda se mantém como ícone para os que buscam para a vida um significado maior do que a própria satisfação.

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