Jornada Mundial da Juventude

Peregrinos se hospedam em favelas para poder ver o Papa

Centenas de jovens que vieram ver o Papa escolheram as favelas do Rio de Janeiro como hospedagem e se surpreenderam com o fato de que seus moradores não andam armados e os tratam melhor do que em casa

Agência France-Presse
postado em 21/07/2013 15:49
Peregrinas Caroline Schneider e Paula Monteiro no complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, onde elas estão sendo hospedados por uma família RIO DE JANEIRO - Centenas de jovens que vieram ver o Papa escolheram as favelas do Rio de Janeiro como hospedagem e se surpreenderam com o fato de que seus moradores não andam armados e os tratam melhor do que em casa. Muitos chegaram há apenas alguns dias à paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, no bairro de Inhaúma, não sabendo que ficariam no Complexo do Alemão, um grupo de 11 favelas que, antes de ser pacificado, era reduto do tráfico de drogas. São peregrinos que vieram de todas as partes do Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), nos próximos 23 a 28 de julho, e que contará com a presença do papa Francisco. Eles receberam hospedagem em diferentes casas de família do Complexo, que vai acolher cerca de 700 jovens. Uma centena também está alojada em outras regiões pobres, incluindo o Complexo de Manguinhos, onde se encontra a favela de Varginha - visitada pelo Papa na quinta-feira, 25 de julho. Medo na favela "Aqui não vou ficar", disse Carol Schneider (21), de Gramado, Rio Grande do Sul, quando durante a missa de acolhida, o padre Julio se referiu ao lugar onde se encontravam, disse à AFP. [SAIBAMAIS]É que o local, presente durante anos em imagens de enfrentamentos entre policiais e traficantes nos noticiários, ainda é muito associado a palavras como tiroteio, tráfico de drogas e assassinato . "Tínhamos outra visão do Alemão", diz Eduardo Gonçalves, 36, que veio de Florianópolis e também se hospeda com moradores da comunidade. Durante décadas o Complexo do Alemão esteve nas mãos traficantes de drogas. A polícia não entrava e os moradores eram proibidos de falar sobre o que acontecia, segundo contam à AFP, ainda com certo receio de sofrer represálias. "O que sabíamos sobre este lugar antes de virmos não bate com a realidade que estamos vivendo", diz a paranaense Flávia Pinheiro (27). Em 2010, o Complexo foi ocupado pela polícia e pelo Exército, munidos de carros blindados e helicópteros, após uma semana de violência urbana que terminou com 37 mortos. Atualmente, a segurança do bairro fica por conta da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Dormir entre plantas e pássaros "Mas as pessoas foram muito acolhedoras, é como se fossemos da família", explica Schneider ao descrever a família que a hospeda, numa casa cheia de plantas, canarinhos que cantam e imagens religiosas. Ela e Flávia dormem com outras nove jovens na laje da casa da família do Complexo. A dona da casa, Almarinda Bolzan, casada e mãe de quatro filhos, preparou um espaço de descanso para as meninas. "Meu marido fez um móvel para elas guardarem suas roupas", conta com orgulho ao mostrar a estante de madeira. O lugar está dividido em dois por um toldo cinza. De um lado os colchões infláveis e duas camas, e do outro uma mesa com café, pão e frutas. "Não pagam nada, aqui elas têm cama e café da manhã", diz Almarinda. E garante que as jovens já até disseram querer morar com ela. "Melhor do que em casa" "Melhor do que em casa", diz, rindo, Rittha Igniz, 33, do Paraná, ao mostrar as maçãs e bananas que deixaram para ela em cima da mesa. As jovens dizem não ter medo que alguém entre no quatro pulando uma das lajes desniveladas que as cercam e que, durante o dia, são tomadas por crianças que aproveitam a proximidade do céu para empinar pipas e papagaios. "Já me sinto em casa", disse Schneider ao admitir que, assim como suas companheiras peregrinas, agora anda tranquila entre as crianças, cães e gatos que, chova ou faça sol, jogam descalços nas inclinadas ruas do bairro. "Cristo nso convida, venham meus amigos, Cristo nos convida, sejam missionários", diz o hino da JMJ cantado pelas jovens, antes de irem dormir, sem medo de que os vizinhos reclamem do barulho.

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