Jornada Mundial da Juventude

Igreja católica chama jovens de várias formas para a vida religiosa

Em Feira Vocacional 130 estandes de diversas congregações deixam de lado a imagem de sobriedade e recato próprias da vida religiosa e optam por uma linguagem moderna

Agência France-Presse
postado em 23/07/2013 19:14
RIO DE JANEIRO - Imagens de Jesus andando de skate e promessas de "uma vida radical" dentro de um seminário ou um convento: no Rio, a Igreja Católica faz o que pode para atrair para a vida religiosa os milhares de jovens que vieram à Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Mas poucos estão dispostos a arcar com as renúncias que esta vida implica.

"Já pensei em seguir o caminho religioso, mas desisti quando me vi diante de imensos obstáculos", confessa a mineira Raquel Oliveira, 24 anos, uma peregrina que passeia pelas ofertas de dezenas de congregações religiosas na Feira Vocacional, que começou nesta terça-feira (23/7) como parte da programação oficial da JMJ.

Na feira, mais de 130 estandes de diversas congregações deixam de lado a imagem de sobriedade e recato próprias da vida religiosa e optam por uma linguagem moderna.

"Venha viver uma vida radical", promete a Ordem das Irmãs Angélicas, que entrega sacolas com a imagem de Jesus Cristo e um skate, enquanto logo ao lado monges, acompanhados de violões cantam tentando atrair outros peregrinos que andam pela Quinta da Boa Vista, local no centro do Rio onde acontece o evento.

"O jovem de hoje quer fazer escolhas únicas, e a vida religiosa é uma opção radical", afirma irmã Íris, de 27 anos, depois de explicar a um grupo de peregrinos como funciona a vida num convento.

O uruguaio Iñaki de Palacio, 24 anos, acabou de se formar em Economia e diz estar dividido sobre sua vocação religiosa. "Tenho muita vontade de atender ao chamado de Deus, mas também penso em ter uma família, filhos", conta o jovem, que diz se sentir pressionado a fazer uma escolha muito cedo.

Rafael Jesus dos Santos, 21 anos, o frei Rafael, sabe que esta é uma decisão que exige maturidade. Aos 16 anos, ele abriu mão de tudo para entrar na vida religiosa. "É um grande desafio, pois hoje a vida religiosa pode não parecer atraente", revela.

-- O ;efeito Francisco; --

Para o chileno José Retamel, 21 anos, a opção pela vida religiosa está em crise. "São muitos estímulos que temos de todos os lados, e essa é uma escolha muito difícil", disse o jovem que se disse feliz em poder descobir ordens religiosas que ele desconhecia.

Muitos como o frei dominicano Roni Valder Biancão, de 23 anos, garantem que existe uma ;crise vocacional; na Igreja. "Os seminários vazios ao redor do mundo são um reflexo das mudanças pelas quais a Igreja passa neste momento".

A argentina Paz Zuvíria, 19 anos, veio de Buenos Aires e afirma já ter pensado em ser freira mas que os obstáculos também a fizeram desistir da ideia. Mas ela acredita que o Papa Francisco, com sua defesa de uma Igreja mais missionária, será um estímulo para que mais jovens queiram ingressar na vida religiosa, "pois ele é o que faltava à Igreja Católica".

E o ;efeito Francisco; pode ser visto no número de visitantes ao estande dos Jesuítas. Lotado de jovens que queriam conhecer mais sobre a ordem religiosa da qual vem o atual sumo pontífice.

"Acho maravilhoso ver que os jovens estão mais interessados em nos conhecer", diz o padre jesuíta Ignacio Lange, da Guatemala, enquanto se desdobra para atender diversos peregrinos ao mesmo tempo. Para ele, é possível que a ;mensagem de evangelização; do Papa traga um novo vigor para os jovens católicos.

No Brasil, país com mais católicos do mundo, dados do Censo de 2010 mostram que há uma diminuição do número de pessoas que se declaram adeptas ao catolicismo, especialmente abaixo dos 30 anos.

"As paróquias têm cada vez menos jovens e mais pessoas velhas", disse à AFP Pedro Ribeiro de Oliveira, professor da PUC de Minas Gerais.

No Rio de Janeiro, onde menos de 50% da população se declara católica e 15% se dizem ;sem religião;, apenas 120 jovens se preparam neste momento para o sacerdócio, e 80 em Niterói, do outro lado da Baía da Guanabara. A região metropolitana no Rio de Janeiro conta com cerca de 12 milhões de habitantes.

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