Novo Papa

Em basílica romana, papa Francisco faz prece e homenagens à Virgem

"Orem pelo Papa", pediu, em italiano, da mesma maneira que o fez na véspera, diante da multidão entusiasmada que o recepcionou na Praça de São Pedro

Agência France-Presse
postado em 14/03/2013 11:03
Ele permaneceu 20 minutos ante a imagem antiga da Virgem e depositou um ramo de flores

Vestido com uma batina branca e sapatos pretos, o novo papa Francisco iniciou nesta quinta-feira (14/3) seu primeiro dia como pontífice indo a uma basílica romana para orar em particular diante da Virgem e homenageá-la com um ramo de flores. Ele permaneceu 20 minutos ante a imagem antiga da Virgem e depositou um ramo de flores, bem simples, de acordo com um um dos 15 seminaristas, freiras e padres que assistiram à primeira atividade do Papa fora do Vaticano.

"Usava a batina branca, sapatos pretos e não vermelhos, seu anel de cardeal e uma cruz de prata", contou o religioso muito emocionado por ter feito parte desse grupo privilegiado que acompanhou o Sumo Pontífice em sua oração na basílica de Santa Maria Maior, fechada ao público e conhecida por ter alojado as maiores congregações dos primeiros cristãos em Roma.

"Orem pelo Papa", pediu, em italiano, da mesma maneira que o fez na véspera, diante da multidão entusiasmada que o recepcionou na Praça de São Pedro, um gesto surpreendente, quase uma revolução para o líder de uma Igreja com 1,2 bilhão de católicos, ao pedir ao mundo que abençoasse seu bispo e não oferecendo sua bênção ao mundo. "Rezem por mim e nos veremos em breve. Amanhã pedirei à Virgem que proteja Roma. Boa noite a todos e descansem", anunciou nessa primeira mensagem como pontífice, transmitida ao vivo pelos canais de tevê mundiais.

Papa foi acompanhado por cardeais e grupo restrito de religiosos

[SAIBAMAIS]O novo Papa também prestou homenagem na pequena capela Paulina, na lateral esquerda da enorme basílica, a uma pequena imagem dourada da virgem bizantina Sales Populus Romana, que, segundo a tradição, foi pintada por Lucas, o Evangelista. Ao término da oração, saudou um por um os presentes, assim como todo o pessoal que trabalha na basílica e os assistentes laicos do templo da associação Cabildo Liberiano, que custodia preciosos documentos históricos.

Neste breve ato, comparável aos realizados no final dos anos 70 pelo papa polonês João Paulo II no início de seu pontificado - dizia-se que ele costumava passear em total anonimato pela Cidade Eterna -, Francisco estava acompanhado, entre outros, pelo prefeito da Casa Pontifícia, George G;nswein, secretário privado do Papa Emérito Bento XVI, e seu adjunto, Leonardo Sapienza, enquanto que seu porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, jesuíta como ele, o esperava no interior.

O pontífice chegou à basílica do centro romano por una entrada lateral. Ele se dirigiu ao templo num dos carros oficiais, mas não o designado aos papas, com a famosa placa "CV1" (Cidade do Vaticano 1). O cortejo papal foi precedido por uma escolta de motoristas do corpo da polícia italiana, que desde o amanhecer fechou as ruas próximas à praça. O pontífice argentino escolheu a basílica de Roma porque é justamente a diocese designada ao novo papa.



Surpresa

A eleição do argentino contrariou todas as previsões dos vaticanistas e especialistas, que apostavam no italiano Angelo Scola, no brasileiro Odilo Scherer ou no canadense Marc Ouellet. "A surpresa de Francisco", destaca na primeira página o jornal Corriere della Sera, resumindo o sentimento das autoridades políticas e religiosas de todo o mundo, que receberam com surpresa e satisfação a eleição do novo Papa. Na Argentina, no entanto, a imprensa também questiona seu papel durante a ditadura militar no país (1976-1983).

Realismo e doutrina

"É um pastor de doutrina sólida e realismo concreto", ressaltou o vaticanista Sandro Magister, que recorda que ele sempre manteve "uma boa distância" da Cúria, o governo da Igreja do qual foi rival há oito anos. "A vitória do Novo Mundo", destacou Marco Politi, outro prestigioso vaticanista, sobre o novo Papa, o primeiro não europeu em 13 séculos.

Nunca antes um jesuíta havia assumido o comando da Igreja. O nome Francisco também é inédito. "Acredito que, antes de mais nada, é uma referência a Francisco de Assis, com esta ideia de que o Papa está ligado aos mais pobres e aos mais humildes", disse à AFP o vaticanista Bruno Bartoloni.

Considerado um conservador na doutrina, mas progressista na área social, Francisco iniciou o papado com um gesto inédito na Praça de São Pedro, onde pediu primeiro a bênção do povo antes de abençoar os fiéis.

Agenda

Nos primeiros dias de pontificado, o Papa terá uma agenda muito carregada. Após a missa com os cardeais nesta quinta-feira, na sexta-feira receberá todo o colégio cardinalício na Sala Clementina no Vaticano e no sábado se reunirá com jornalistas. No domingo pronunciará o tradicional Angelus de seu quarto papal. Também pretende visitar nos próximos dias o Papa emérito Bento XVI.

A missa de entronização, que deve contar com a presença de líderes e personalidades de todo o mundo, acontecerá na próxima terça-feira 19, dia de São José, patrono da Igreja.

Momento histórico

Com esta eleição terminam quatro semanas agitadas na história moderna da Igreja, após a renúncia inesperada de Bento XVI, que alegou "falta de forças", um fato sem precedentes nos últimos sete séculos. O novo pontífice deverá responder aos escândalos que explodiram durante o último pontificado, como o dos abusos sexuais de menores ou o caso "VatiLeaks", o vazamento de documentos confidenciais do pontífice.

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