Agência France-Presse
postado em 15/03/2013 08:54
Vaticano - O papa Francisco pediu nesta sexta-feira (15/3) aos cardeais que não cedam ao pessimismo e à amargura, e também defendeu a fraternidade e a harmonia dentro da Igreja Católica, em um discurso emotivo e em parte improvisado, que confirma uma mudança de estilo na maneira de liderar a milenar instituição. "Não nos deixemos ceder ao pessimismo nem à amargura que o diabo nos oferece a cada dia", declarou o pontífice argentino ao colégio de cardeais reunido na imponente Sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano.
Em suas palavras, repletas de agradecimentos, Francisco prestou homenagem ao antecessor Bento XVI e chamou de "corajosa e humilde" sua renúncia. Também disse que o pontificado anterior será "um patrimônio espiritual para todos". O primeiro Papa não europeu em 13 séculos convidou, no entanto, os "príncipes da Igreja" a buscar novos métodos de evangelização para levar a verdade cristã (...) a todos os extremos da Terra".
O papa, vestido com uma simples batina branca e uma cruz de ferro, insistiu ante os cardeais dos cinco continentes, que chamou de "irmãos", sobre a necessidade de "comunhão eclesiástica" e que todos se conheçam como uma "comunidade de amigos". O pontífice reconheceu a existência de diferenças no colégio cardinalício e pediu a todos que não temam enquanto reinar a harmonia, mas também afirmou que o Espírito Santo vela pela Igreja.
Com fala pausada e improvisando várias vezes sobre o roteiro preparado, o papa, de 76 anos, fez um elogio à própria velhice e dos demais cardeais, e a comparou "ao bom vinho que melhora com o passar dos anos". Também agradeceu com particular atenção aos cardeais que asseguraram a Sede Vacante desde 28 de fevereiro, o decano do colégio cardinalício Angelo Sodano, o camerlengo Tarcisio Bertone e o decano do conclave Giovanni Battista Re. Dedicou a cada um deles palavras de afeto, recebidas com sorrisos.
[SAIBAMAIS]Também recordou do cardeal argentino Jorge Mejía, de 90 anos, que sofreu um infarto na quarta-feira e se recupera em um hospital romano. Desde sua primeira aparição na sacada da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco tem apresentado um novo estilo, muito diferente do antecessor, o "papa teólogo" com o qual terá que conviver dentro dos muros do Vaticano após sua histórica renúncia.
De acordo com o jornal Corriere della Sera, o novo papa foi eleito com o apoio de 90 cardeais dos 115 que participaram no conclave de dois dias. Nos dois dias após a eleição, além dos elogios, os temas que chamam a atenção são o destaque da imprensa mundial ao questionado papel do agora Papa nos anos de chumbo da ditadura argentina e sua idade, depois que na quinta-feira foi visto com passos hesitantes ao depositar flores para a Virgem Maria em uma basílica de Roma.
Francisco tem apenas dois anos a menos do que Joseph Ratzinger tinha quando foi proclamado Papa e o Vaticano confirmou que ele teve retirada parte de um pulmão quando eram jovem, mas destacou que esta não é uma deficiência.
Demandas de todo o mundo para mudança de rumo
A eleição do novo papa provocou em todo o mundo pedidos de uma mudança de rumo da Igreja Católica após oito anos de pontificado de Bento XVI, marcado por escândalos, acusações de corrupção financeira e de abusos sexuais de menores idade. Nesta sexta-feira, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que as acusações contra o pontífice por sua conduta durante a ditadura argentina (1976-1983) são "caluniosas e difamatórias".
"A matriz anticlerical destas campanhas são conhecidas", afirmou o porta-voz, em referência às acusações contra o cardeal Jorge Bergoglio, o atual papa Francisco, por estar supostamente envolvido na detenção de dois missionários jesuítas torturados pelos militares em 1976. "Fez muito para proteger as pessoas durante a ditadura militar", completou, antes de recordar que quando Bergoglio se tornou arcebispo de Buenos Aires pediu perdão pela Igreja não ter feito o suficiente durante a ditadura.
Na Irlanda, a o ;Victims Support Group; pediu que o novo papa "obrigue a uma prestação de contas" os responsáveis por abusos, enquanto nos Estados Unidos uma vítima de abusos sexuais deseja processar o cardeal Roger Mahony. No primeiro dia de pontificado, o novo Papa fez um gesto para a comunidade judaica e pediu melhores relações entre as duas comunidades, "com um espírito de renovada colaboração" no delicado tema das relações da Igreja Católica com os outros cultos do mundo.
O Vaticano já está organizando os preparativos para a grande missa de entronização da próxima terça-feira (19), dia de São José, patrono da Igreja, para a qual espera a presença de líderes de todo o mundo, incluindo as presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Brasil, Dilma Rousseff.