Novo Papa

Vaticano afirma que vincular papa Francisco à ditadura é calúnia

A controvérsia sobre a atitude da Igreja durante os anos de chumbo da ditadura voltou à tona após a eleição Bergoglio, que compareceu como testemunha em vários processos

Agência France-Presse
postado em 15/03/2013 10:57
Papa Francisco (C) ao lado de cardeais
As acusações contra o papa Francisco por sua conduta durante a ditadura argentina (1976-1983) são "caluniosas e difamatórias", indicou nesta sexta-feira (15/3) o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi. "A matriz anticlerical dessas campanhas são conhecidas", afirmou o porta-voz papal, ao referir-se às acusações contra o Jorge Bergoglio por suposto envolvimento na detenção de dois missionários jesuítas torturados pela ditadura em 1976.

"A campanha contra Bergoglio é conhecida, se refere a fatos de há muito tempo e foi promovida por uma publicação que, em várias ocasiões, é caluniosa e difamatória. A origem da esquerda anticlerical é notória", acrescentou Lombardi falando à imprensa. "Ele fez muito para proteger as pessoas durante a ditadura militar", prosseguiu o porta-voz, que recordou que quando Bergoglio se converteu em arcebispo de Buenos Aires, "pediu perdão pela Igreja não ter feito o suficiente durante a ditadura".

A controvérsia sobre a atitude da Igreja durante os anos de chumbo da ditadura voltou à tona após a eleição Bergoglio, que compareceu como testemunha em vários processos - sem que jamais a justiça demonstrasse qualquer envolvimento - e sempre negou ter colaborado com a repressão. O arcebispo de Buenos Aires foi citado em três ocasiões, apenas como testemunha, para declarar em julgamentos relacionados com esse período.


[SAIBAMAIS]Em uma ocasião, pelo desaparecimento de um padre francês, e em outra pelo roubo de filhos dos desaparecidos. Os críticos de Bergoglio também afirmam que ele teve relação com a detenção de dois missionários jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Jalics, presos em 23 de março de 1976 e liberados cinco meses depois. Eles foram torturados na Escola de Mecânica da Armada (ESMA). Na época, o prelado argentino comandava a ordem dos jesuítas.

"Fiz o que pude, com a idade e as poucas relações que tinha, para interceder a favor das pessoas sequestradas", afirmou Jorge Bergoglio em um livro de entrevistas. Lombardi enfatizou que o militante pelos direitos humanos e Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, assegurou que o novo pontífice "não tem vínculo algum que o relacione com a ditadura".

Mais cedo, o cardeal australiano George Pell, eleitor no conclave, classificou de mentira as acusações de cumplicidade do papa com a ditadura argentina. Para o arcebispo de Sydney, membro do colégio cardinalício, "as histórias foram desmentidas há anos".

"O diretor da Anistia Internacional daquela época disse que as acusações são completamente falsas. Eram difamação e mentiras", declarou Pell à rádio ABC. Ao ser questionado se o papa Francisco deveria falar sobre o tema, disse que não, "de maneira nenhuma". A repressão desses anos deixou mais de 10.000 de desaparecidos, segundo cifras oficiais, e mais de 30.000, segundo a organização não-governamental Mães da Praça de Maio.

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