Cidade do Vaticano - Cerca de 150.000 pessoas aclamaram neste domingo na Praça de São Pedro do Vaticano o Papa Francisco, que celebrou o primeiro Angelus de seu pontificado, no qual insistiu na necessidade da misericórdia e do perdão para um mundo mais justo.
"Irmãos e irmãs, bom-dia", foram as primeiras palavras do Papa argentino Jorge Bergoglio, que escolheu o nome Francisco, ao aparecer de batina branca e com uma cruz de ferro, enquanto os católicos agitavam bandeiras de dezenas de países na imensa esplanada situada no coração do Vaticano.
[VIDEO1]
"Para nós cristãos é importante encontrar-nos todos os domingos, saudar-nos, conversamos em uma praça que, graças aos meios de comunicação, tem as dimensões do mundo", disse em uma nova demonstração da proximidade com os fiéis que marcou o início de seu pontificado.
Diante de uma multidão que gritava seu nome, Francisco se referiu à passagem do Evangelho sobre uma mulher adúltera salva por Jesus do apedrejamento.
[SAIBAMAIS]"Deus perdoa sempre e tem misericórdia para todos", disse, antes de insistir: Deus "nunca se cansa de perdoar, somos nós os que cansamos de pedir perdão", repetindo a mesma mensagem de uma missa celebrada poucos minutos antes na capela de Santa Ana, dentro dos muros do Vaticano. "Saúdo cordialmente todos os peregrinos e agradeço por sua acolhida", afirmou, antes de receber mais aplausos.
"Um pouco de misericórdia faz o mundo menos frio e mais justo", disse o pontífice, citando um livro do cardeal alemão Walter Kasper sobre o tema, que disse ter lido nos últimos dias.
E, diante da surpresa do público que o ouvia (estimado pelo Vaticano em 150.000 pessoas e pelas autoridades municipais em 300.000), acrescentou: "Não pensem que faço publicidade dos livros dos meus cardeais, não é isso".
Esta não foi a única vez que demonstrou seu senso de humor, já que também lembrou um episódio de quando era bispo em Buenos Aires, em 1992, quando, após uma missa em homenagem à Virgem de Fátima, uma idosa o abordou e disse: "Se o Senhor não perdoasse a todos, o mundo não existiria".
Surpreso por sua sabedoria, o atual Papa perguntou ";Mas diga-me senhora, estudou na Universidade Gregoriana?" (a universidade de Roma onde muitos Papas se formaram), completou Francisco.
O Papa voltou a pedir aos fiéis que rezem por ele, como havia feito na quarta-feira, dia em que foi proclamado pontífice. Ele encerrou o Angelus com o desejo de "bom domingo e bom almoço", com a simplicidade que caracteriza os primeiros dias de seu comando da Igreja Católica.
"Sinto uma emoção indescritível. Vai trazer muita paz porque é muito humilde, muito espontâneo. Você sente que é mais próximo das pessoas. Com o Papa anterior não se sentia isto", disse Gabriel Solís, um argentino de 33 anos, que, como milhares de compatriotas, assistiu a segunda aparição pública do pontífice, eleito após a renúncia de Bento XVI.
"Precisávamos de um Papa que tivesse outro carisma", afirmou a irmã Luisa, jovem religiosa chilena de Santa Marta, que exibia a bandeira de seu país.
Antes da tradicional oração dominical, o papa Francisco havia celebrado uma missa na pequena igreja de Santa Ana, no Vaticano, onde rompeu a tradição ao apresentar sua homilia de pé, e não em um trono, como seu antecessor.
Quebrando novamente o protocolo, ao sair da Igreja se aproximou para saudar as centenas de pessoas que se amontoavam atrás das barreiras de segurança com gritos de "Viva o Papa" e "Francisco, Francisco", complicando a tarefa dos seguranças.
Desde sua eleição, o Papa surpreendeu com improvisos, sem seguir os roteiros e falando afetuosamente com o povo, o que foi interpretado como o início de uma nova era de maior proximidade e humildade em uma Igreja desacreditada por vários escândalos.
Tudo pronto para a missa de entronização
Personalidades de todo o mundo começaram a chegar a Roma para acompanhar a grande missa de entronização de Francisco na terça-feira, dia de São José, na qual são esperadas mais de um milhão de pessoas.
A presidente argentina, Cristina Kirchner, aterrissou na tarde deste domingo no aeroporto romano de Fiumicino.
Kirchner será recebida pelo Papa na segunda-feira às 11h50 GMT (08h50 de Brasília) na Casa Santa Marta, sua residência provisória no Vaticano, até poder ocupar nos próximos dias o apartamento no palácio apostólico.
A relação entre o até quarta-feira arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio e a presidente da República era carregada de tensões, sobretudo desde a legalização do casamento homossexual, em 2010, mas este encontro provoca expectativas de aproximação na Argentina.
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, também já está na cidade, assim como a presidente Dilma Rousseff, e nas próximas horas são esperados os líderes de México, Enrique Peña Nieto, e Equador, Rafael Correa, entre outros.
Também são esperados os herdeiros da Coroa da Holanda, o príncipe Willem-Alexander, e sua esposa argentina, Máxima Zorreguieta, além de membros da Coroa espanhola.
Após a missa de entronização, o Papa visitará no sábado, dia 23, Bento XVI em Castelgandolfo, a residência pontifícia próxima a Roma onde o Papa Emérito se instalou temporariamente desde sua renúncia, no dia 28 de fevereiro.