O Brasil Que Ninguem Ve

Atraso social condena brasileiros também à exclusão do sistema financeiro

Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 22/01/2013 10:43
Lontra e Luislândia ; O atraso que condena milhares de brasileiros à exclusão social faz com que eles se tornem invisíveis para o sistema financeiro. Não à toa, mais de 2 mil municípios estão fora da rota dos bancos. ;Pagamos um preço alto por isso;, diz Élson Rogério Antunes, dono de uma mercearia em Lontra. Ele reconhece que, embora o município tenha um caixa eletrônico e o Banco Postal, os moradores são obrigados a se deslocarem para Januária (52km) ou São João da Ponte (45km). ;Desperdiçamos um tempo precioso na estrada, quando poderíamos estar cuidando do nosso negócio;, diz. ;A dificuldade é muito grande. Aqui, não podemos sacar cheques. Isso atrapalha muito o comércio.;

[SAIBAMAIS] A falta de saneamento é outro problema em Lontra. Na maioria das casas, os moradores são obrigados a recorrerem às fossas no quintal. ;Realmente, é muito ruim viver sem rede de esgoto. Ficamos expostos a doenças;, afirma a doméstica Vilma Maria de Jesus, 30 anos, mãe de cinco filhos pequenos. Na comunidade negra de Julia Mulata, no município de Luislândia, também no norte de Minas, a situação é degradante. Lá vivem 32 famílias.

No ano passado, o povoado foi atendido por um programa de melhoria de habitações para o controle da doença de Chagas, com a construção de 20 casas. No entanto, os moradores reclamam de outras carências. A água consumida pelas famílias é sem tratamento. A aposentada Joana Pereira Rosa, 62, conta que, como não tem banheiro, é obrigada a fazer as necessidades no mato. Ela também reclama da dificuldade para conseguir atendimento médico e da falta de emprego e renda. ;A gente não encontra serviço aqui. Quando aparece alguma ocupação, é serviço na roça, a R$ 20 por dia;, endossa o desempregado Genésio Alves Silva, 30. ;E mais: ninguém aqui tem carteira assinada;, completa outro integrante do grupo quilombola.

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Em São Joaquim, distrito de 2,5 mil habitantes de Januária, o tempo parece que parou. Não tem telefonia celular. As condições de saneamento e assistência médica são precárias. Para receber o pagamento, os aposentados precisam viajar até a sede do município, a 97 quilômetros de distância. ;A gente aqui vive esquecido;, diz Fernando José Barbosa, 69 anos. Ele conta que, na juventude, morava numa localidade rural, distante 120 quilômetros de Januária, e costumava viajar até a cidade para vender farinha de mandioca, rapadura e outros produtos da roça. A viagem era feita em carro de boi e demorava até uma semana. ;Mas, hoje, infelizmente, não mudou muita coisa;, diz. (LR)

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