Helena Mader
postado em 05/12/2012 22:02
As ;atividades subversivas; de Oscar Niemeyer eram acompanhadas de perto por agentes da ditadura, mas as posições políticas do arquiteto nunca foram uma razão para afastá-lo completamente da cidade que ajudara a criar. Apesar de vetado para fazer o Aeroporto de Brasília, o comunista desenhou o projeto do Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano. A construção monumental saiu do papel nos anos mais difíceis da ditadura. Ainda nessa época, ele projetou o Palácio do Jaburu, que foi ocupado por alguns dos militares mais linha-duras do regime.
Com seu discurso e com sua ideologia, Niemeyer combatia o governo. Mas ele não se privava de espalhar seus monumentos pela capital federal, comandada pelos militares. ;Nunca me calei. Nunca escondi minha posição de comunista. Os governantes compreensivos, que me convocam como arquiteto, sabem da minha posição ideológica;, contou o arquiteto no livro Curvas do tempo. ;Pensam que sou um equivocado e eu deles penso a mesma coisa.;
Durante a elaboração do projeto do QG do Exército, não houve atritos. Mas já no início da abertura política, nos anos 1980, o arquiteto enfrentou uma barulhenta resistência contra seu projeto para o Memorial JK. A escultura do presidente Juscelino Kubitschek sobre uma estrutura curva de concreto era vista pelos militares como uma referência à foice, símbolo do Partido Comunista.
Houve quem defendesse o fechamento com tijolos da estrutura que protegia a escultura, para disfarçar qualquer referência ao Partido Comunista. Apesar da resistência, o projeto vingou. E anos depois, Niemeyer confirmou o espírito político e questionador de sua obra. ;O objetivo foi contestar a ditadura existente, obrigando os mais reacionários a vê-lo (JK) todo dia, sorrindo, vitorioso sobre a cidade que Lucio inventou e ele construiu;, contou o arquiteto em suas memórias.