Helena Mader
postado em 05/12/2012 22:13
Cada entrevista ou declaração de Oscar Niemeyer era motivo de inquietação para o governo militar. Tudo era monitorado, até mesmo a publicação de reportagens na imprensa estrangeira. Um documento de junho de 1970 da Divisão de Segurança e Informação, com carimbo de reservado, fala de uma entrevista do arquiteto à revista peruana Oiga, publicada em maio daquele ano. À reportagem, Niemeyer declarou: ;Sou comunista, você sabe, mas sou também brasileiro. E é por ser brasileiro, que sou comunista;. Ele falou ainda ao jornalista peruano sobre seu intuito de lutar contra o governo brasileiro. ;O exílio não é a solução. Como arquiteto e como homem comprometido politicamente é no Brasil que devo viver e, na medida das minhas possibilidades, bater-me, lutar contra a ditadura e as hipocrisias sociais.; E ainda completou: ;Mas isso não é fácil. Você deve saber que não estou com fama de santo;.
Um documento do Centro de Informações do Exterior (Ciex) de 1968 tinha como índice: ;Atividades de Oscar Niemeyer. Movimento Pró-Paz;. O documento diz que, por ocasião do aniversário de 60 anos do arquiteto, o jornal moscovita Komsomoloskaia Pravda publicou um artigo dedicado a ele. ;O autor do artigo relata a vida e os trabalhos elaborados por Niemeyer, considerado pelo articulista como um dos melhores arquitetos da atualidade e revelando inclusive que o marginado sempre foi um grande amigo da União Soviética;, diz trecho de documento elaborado pelos militares. Outra entrevista concedida por Niemeyer à revista chilena Ercilla também motivou a elaboração de um outro relatório. O ofício diz: ;Devido às ilações que podem ser retiradas do artigo, segue cópia do mesmo para uso da comunidade nacional de informação;.
Em 1979, quando Niemeyer criou o Centro Brasil Democrático, foi publicado um jornal com artigos seus e de outras personalidades. A publicação motivou um ofício sigiloso da Divisão de Segurança e Informação do governo, que informava sobre o texto do arquiteto. ;Ele traz críticas ao atual regime, taxado de arbitrário, fascista, repressivo, reacionário e antidemocrático.;