Oscar Niemeyer

Representantes dos três poderes destacam a importância do arquiteto

Paulo de Tarso Lyra
postado em 06/12/2012 06:11
Apesar da agonia que durava mais de um mês, a notícia da morte de Oscar Niemeyer consternou Brasília em uma noite chuvosa. A presidente Dilma Rousseff divulgou nota oficial lembrando uma frase do arquiteto: ;A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem;. Segundo ela, ;poucos sonharam tão intensamente e fizeram tantas coisas acontecer como ele;. Dilma citou ainda a verve socialista do arquiteto e afirmou que o Brasil perdeu um dos seus gênios. ;É dia de chorar sua morte. É dia de saudar sua vida;, completou (leia a íntegra da nota ao lado).

Para o governador do DF, Agnelo Queiroz, ;Brasília chora por Niemeyer o mesmo choro sentido e saudoso dos órfãos;. Agnelo afirmou também que os brasilienses devem, a ele, ;a graça de habitar uma cidade monumento patrimônio cultural da humanidade;. O governador convidou, na nota oficial, os brasilienses a admirar Brasília constantemente. E encerrou com uma saudação: ;Vai com Deus, mestre Oscar;.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, divulgou nota expressando ;consternação; com a morte de Niemeyer e destacou a simplicidade do gênio. ;Homem de hábitos simples, notabilizou-se pela defesa dos ideários de liberdade e a busca incansável pela dignidade da gente brasileira.;

O presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP), declarou que ;Oscar Niemeyer marca um tempo da história do Brasil;. O peemedebista citou que o arquiteto foi coerente como artista e como ser humano. ;Se a arte brasileira tem seu reconhecimento internacional, é na extraordinária presença que Oscar Niemeyer deixa no mundo inteiro, com o seu gênio e sua capacidade de invenção e de reinvenção a qualquer tempo.;

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) declarou que o país perdeu um dos mais importantes brasileiros da história. ;Não há outras palavras para defini-lo: Niemeyer era simplesmente genial, talento puro, ousadia e inquietude e também inspiração permanente. A sua obra tem o exato tamanho do autor, que teve uma trajetória exemplar, sempre coerente com suas ideias e convicções.;

Comunista durante o período da ditadura militar, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) resumiu em uma frase o seu sentimento: ;Ele parecia eterno e, no fundo, ele é;. O tucano lembra que conheceu obras de Niemeyer em Paris, na Argélia e em diversos pontos do país. ;Ele era profundamente brasileiro e imensamente universal;, resumiu.

O ex-presidente do STF Ayres Britto também reverenciou Niemeyer. Para ele, o arquiteto era ;um otimista radical, e Brasília, particularmente, por um modo especialíssimo, perpetuará a memória dele;. Ayres ainda lembra do primeiro impacto provocado quando viu a Catedral de Brasília, nos anos 1970. ;Eu disse

para mim mesmo: meu Deus, que buquê de cisnes;. Outro ex-presidente do tribunal, Gilmar Mendes afirmou que a arquitetura brasileira foi projetada no mundo todo por causa de Niemeyer. ;Ele dignificou o povo brasileiro;, acrescentou Marco Aurélio Mello.
O presidente da Embratur, Flávio Dino, filiado ao mesmo partido de Niemeyer, o PCdoB, lembra da última vez que o viu, em 2010, na inauguração do prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio. ;Eu disse que era do Maranhão, e ele afirmou: terra de Maria Aragão, médica e grande comunista. Ela era amiga de Luís Carlos Prestes e o Niemeyer lembrava dela com clareza;, espantou-se Dino.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ressaltou, além da genialidade no traço, as convicções firmes que Niemeyer manteve ao longo da vida. ;Niemeyer viveu uma vida muito intensa, caracterizada, inclusive, por uma militância política muito comprometida;, enalteceu. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga, declarou que ;o homem se foi, mas Brasília e outras obras-primas espalhadas pelo país e pelo mundo eternizam o traço das curvas livres, sempre bonito e surpreendente, e do concreto armado;. O governador de Minas, Antonio Anastasia, declarou luto oficial pela morte do arquiteto.

Colaborou Edson Luiz



;É dia de saudar sua vida;
;A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem;, dizia Oscar Niemeyer, o grande brasileiro que perdemos hoje. E poucos sonharam tão intensamente e fizeram tantas coisas acontecer como ele.
A sua história não cabe nas pranchetas. Niemeyer foi um revolucionário, o mentor de uma nova arquitetura, bonita, lógica e, como ele mesmo definia, inventiva.

Da sinuosidade da curva, Niemeyer desenhou casas, palácios e cidades. Das injustiças do mundo, ele sonhou uma sociedade igualitária. ;Minha posição diante do mundo é de invariável revolta;, dizia Niemeyer. Uma revolta que inspira a todos que o conheceram.

Carioca, Niemeyer foi, com Lucio Costa, o autor intelectual de Brasília, a capital que mudou o eixo do Brasil para o interior. Nacionalista, tornou-se o mais cosmopolita dos brasileiros, com projetos presentes por todo o país, nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, na Argélia, na Itália e em Israel, entre outros países. Autodeclarado pessimista, era um símbolo da esperança.

O Brasil perdeu hoje um dos seus gênios. É dia de chorar sua morte. É dia de saudar sua vida.
Dilma Rousseff, presidente da República Federativa do Brasil

;Vai com Deus, mestre Oscar;
Brasília chora por Niemeyer o mesmo choro sentido e saudoso dos órfãos. Pois é assim, filha, que a cidade sempre se sentiu em relação a Oscar. Nosso espírito urbano é tão forte e peculiar quanto as curvas que domam o concreto e se vestem do céu azul do cerrado, moldando a nossa paragem à imagem e semelhança do nosso grande e maior gênio arquitetônico. Muito por mérito dele, nós, brasilienses, temos a graça de habitar uma cidade monumento patrimônio cultural da humanidade. Hoje, é dia de tristeza, mas é também o dia de bradarmos que devemos a este grande brasileiro o legado de preservá-la absolutamente e de não pararmos de admirá-la sempre e todo dia por sua beleza, seu encanto e sua originalidade. Todos nós que amamos Brasília precisamos, neste momento, calar respeitosamente para nos despedirmos: vai com Deus, mestre Oscar.
Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal


;Um sentimento permanente do novo;
Oscar Niemeyer marca um tempo da história do Brasil. Oscar foi o maior artista brasileiro, um personagem extraordinário, uma pessoa humana excepcional. Sua personalidade tem duas faces principais. A primeira é a sua coerência de artista, com uma obra que se afirmou na beleza, na busca constante do que ele chamava de invenção. Essa visão que descobriu no Palácio dos Doges, em Veneza, os princípios construtivos explorados no limite das possibilidades, que permitiu que fizesse os maiores vãos que a arquitetura conhece e, ao mesmo tempo, conseguisse a completa intimidade da Casa das Canoas, essa obra prima de integração com a natureza. O respeito e a espontaneidade do traço, estabelecendo um sentimento permanente do novo.

O outro aspecto foi sua coerência humana. Jovem ainda, optou por se dedicar ao socialismo, a mais generosa das opções da história da política. Foi comunista, enquanto existiu o Partido Comunista; continuou comunista, depois que desapareceu o Partido Comunista. Sua crença na necessidade de uma solidariedade absoluta, sua dedicação à amizade e à vida foram uma das grandes lições de nosso tempo.

Tive o privilégio de conviver com Oscar Niemeyer. Presidente da República, chamei-o de volta a Brasília, onde recriamos o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, e fizemos várias obras.

Se a arte brasileira tem seu reconhecimento internacional, é na extraordinária presença que Oscar Niemeyer deixa no mundo inteiro, com o seu gênio e sua capacidade de invenção e de reinvenção a qualquer tempo.
Senador José Sarney, presidente do Congresso Nacional

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