Oscar Niemeyer

Niemeyer influenciou mais de uma geração de arquitetos no Brasil e no mundo

Flávia Maia
postado em 06/12/2012 06:22
Quando o telefone celular tocou, ontem à noite, em Salvador, o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, sentiu um aperto diferente no peito. Temia que fosse uma notícia ruim relacionada ao velho amigo e companheiro profissional Oscar Niemeyer. Lelé não se enganou. Oscar acabara de morrer no Rio de Janeiro, a 10 dias de completar 105 anos. ;Fico triste por sua morte, mas sinto muita alegria e orgulho por ter sido amigo do Oscar. Ele era uma figura humana extraordinária, dotado de uma generosidade que só quem o conheceu de perto sabe dizer;, disse Lelé, enquanto arrumava a mala. Hoje, estará em Brasília para velar o corpo do amigo.

Com 81 anos e considerado um dos mais importantes arquitetos brasileiros, Lelé conheceu Niemeyer aos 25. ;Oscar atravessou gerações, manteve uma característica individual marcante, na simplicidade da sua arquitetura, mas adaptou-se aos novos tempos. Ele soube se renovar ao longo do tempo. Posso dizer sem medo que foi um dos maiores gênios da humanidade no nosso tempo. O povo reconheceu e abraçou a obra do Oscar. E isso, poucos conseguiram. As coisas que ele criou têm uma simplicidade que emociona;, disse Lelé.

Oscar Niemeyer não apenas apontou o caminho das pedras da arquitetura moderna brasileira. Ele ;andou sobre as águas;. Para que os arquitetos pudessem dar conta de tamanha destreza seria necessário que cada um dos discípulos vivesse, pelo menos, 200 anos. Com essa metáfora do cristianismo, o arquiteto Claudio Queiroz expressou a dimensão da maestria do arquiteto. Professor da Universidade de Brasília, Queiroz é um dos mais febris discípulos do gênio que deu asas ao concreto.

Dos arquitetos brasilienses, nascidos ou aqui estabelecidos, Carlos Magalhães é o que mais proximamente esteve ligado a Niemeyer. Desde os anos 1960, os dois mantinham forte ligação. Casado durante 17 anos com a única filha do arquiteto, Anna Maria, Magalhães é pai de dois dos cinco netos de Niemeyer e foi chefe do escritório do Rio de Janeiro durante 14 anos. ;A importância do Oscar é imensa, e isso muito baseado no trabalho dele. Ele trabalhou muito. Fazia e refazia maquetes. Não podemos nos esquecer também da importância do engenheiro calculista Joaquim Cardozo que ajudou Oscar a dar leveza à sua arquitetura.;

Noticiar a morte do companheiro Oscar Niemeyer para uma plateia lotada de arquitetos brasileiros e de vários países do mundo foi uma tarefa difícil para Haroldo Pinheiro, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). Com a voz embargada, Pinheiro contou que estava no Memorial JK em uma cerimônia com arquitetos quando foi comunicado da morte, por volta das 22h de ontem. ;Para ele, a obra que ele tinha produzido era secundária, o importante era a vida, o mundo vivendo na fraternidade. A vida de Niemeyer foi uma homenagem à arquitetura. A obra que ele produziu foi uma celebração à vida e vai inspirar gerações.;

O superintendente do Iphan no DF, José Leme Galvão, também lamentou a morte do colega de profissão. Ele se lembra de quando veio a Brasília pela primeira vez e viu o Congresso Nacional: ;Nesse momento, graças a uma obra de Niemeyer, escolhi a carreira de arquiteto;. Para Galvão, Niemeyer se destacou pelo toque de inconsequência e irresponsabilidade, em uma época em que ousar era difícil. ;Todo mundo achava que os prédios não iam dar certo. Quando foram desformar a estrutura da Catedral, todo mundo ficou com medo e ninguém quis ficar embaixo;, recorda.
Sylvia Ficher, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, publicou, em 2010, um guia de obras de Oscar Niemeyer em Brasília, em parceria com Andrey Rosenthal Schelle. ;Oscar Niemeyer é um arquiteto de séculos. É o arquiteto com mais projetos construídos na história da arquitetura em todos os tempos;, disse a professora.

Para o membro da Federação Pan-Americana de Arquitetos Germán Suárez Betancourt, que está em Brasília para o seminário de arquitetura, Niemeyer deixou um grande legado para gerações futuras. ;Ele transformou a arquitetura brasileira e suas obras integravam o espaço público com o meio ambiente pela exuberância e plasticidade;, disse Germán.

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