Renato Alves
postado em 06/12/2012 07:14
Enquanto a morte de Oscar Niemeyer era anunciada no Rio de Janeiro, começava a chover em Brasília. Alguns dos seus mais famosos monumentos eram lavados pela água que caía do céu na cidade que ele ajudou a construir. Nem o mau tempo espantou os brasilienses e brasileiros de todos os cantos do país que quiseram fazer uma última homenagem ao arquiteto visitando algumas de suas obras de arte erguidas na capital de todos os brasileiros.
Em meio à chuva, o militar Dalmo Reis, 29 anos, da Força Nacional de Segurança, admirava e fotografava a Catedral de Brasília. Ele não se cansava de elogiar a beleza daquele e de outros prédios construídos por Niemeyer. ;A cidade é toda bem definida. Em todos os lugares que vamos, vemos o dedo de Niemeyer. Acredito que as pessoas vêm visitar Brasília justamente por causa dos monumentos dele;, comentou o piauiense, que mora em Brasília há dois anos.
A morte de Oscar Niemeyer mexeu também com aqueles que haviam saído de casa para se divertir, como a servidora pública Dalila Figueiredo, 57 anos, e o bancário Fábio Cavalcanti, 50. Eles escolheram jantar no restaurante Oscar ; batizado em homenagem ao arquiteto e construído no Brasília Palace Hotel, uma das obras do mestre (leia Para saber mais) ; sem saber da morte de Niemeyer. Lá, quando eram servidos, tomaram conhecimento da triste notícia.
Moradora de Brasília há 35 anos, Dalila destacou diversas virtudes do arquiteto. ;Admirava vários ângulos de Oscar Niemeyer. Ele foi desbravador, fiel comunista, inovador e abriu a consciência da sociedade por meio da arte e forma de viver;, afirmou. Fábio aumentou a lista de admirações. ;Adoro as linhas modernas dos prédios dele. Três pessoas foram fundamentais para a construção da cidade e marcaram a identidade visual de Brasília: Athos Bulcão, Lucio Costa e Oscar Niemeyer, que mais se destacou.;
Assim que soube da partida do arquiteto, um grupo de paraenses, que passa a semana em Brasília a trabalho, fez questão de deixar o restaurante nordestino onde estava para tirar fotografias em frente à Igrejinha da 308 Sul, uma das obras-primas de Niemeyer. ;O esforço do Niemeyer foi imensurável. Tudo que ele fez influenciou a vida da gente, não só de Brasília nem do Brasil, mas no mundo todo. Ele é um exemplo de brasileiro, pois lutou contra a ditadura no país;, frisou o advogado Wesley Loureiro, 35 anos. ;O mais interessante é que ele fez Brasília para o homem, diferentemente das outras cidades que já existiam. Ele pensou no homem e em suas necessidades;, emendou o amigo e matemático Jorge de Castro, 41 anos.
Inspiração
A obra de Oscar Niemeyer inspirou gerações Brasil afora. Nas faculdades de arquitetura, muitos jovens escolheram seguir a carreira contagiados pelos traços marcantes do carioca de 104 anos. Minutos depois de o Hospital Samaritano divulgar a morte do arquiteto, o assunto já dominava as mesas de bar e eventos realizados na noite de ontem no Distrito Federal.
A estudante de arquitetura Daniela Menezes, 25 anos, lembrou do legado deixado por Niemeyer e revelou que escolheu a profissão sob total influência do artista. ;Ele foi um ídolo. Por causa dele, decidi fazer arquitetura. Cresci em Brasília e tenho muito orgulho dos feitos desse homem admirável. As formas da cidade são geniais. O que mais me chama a atenção é a estética;, ressaltou.
Enquanto trabalhava, o comerciante Stéfano Moraes de Vasconcelos, 33 anos, lamentava a morte do arquiteto. Nascido em Brasília, ele se orgulha de trabalhar em uma construção idealizada por Niemeyer, a Rodoviária do Plano Piloto. ;Meu pai tem a lanchonete desde que nasci. Oscar Niemeyer foi muito importante para Brasília, para o Brasil e para o mundo;, destacou Stéfano, que passa boa parte do dia tendo como vista a Esplanada dos Ministérios, onde está o maior conjunto de obras de Niemeyer.