Oscar Niemeyer

Em carta inédita revelada, Niemeyer recusou convite para disputar vaga ao Senado

Ana Dubeux
postado em 07/12/2012 08:24
Clique para aumentar;Prezado amigo José Aparecido

Hoje, ainda deitado, madrugada e tudo escuro, fiquei a pensar nos meus problemas e nessa ameaça de candidatura que você tão generosamente propõe;

Assim, ao descrever a noite anterior, Oscar Niemeyer começa uma carta endereçada ao então governador do Distrito Federal José Aparecido de Oliveira. O texto revela um momento inédito: a renúncia da política em nome da arquitetura. Em quatro páginas, o arquiteto explica a razão de ter recusado o convite para ser candidato a uma das vagas de senador nas eleições naquele ano, em 1986. Ao descrever os recentes trabalhos em Brasília, Niemeyer diz que é impossível conciliar as atividades profissionais ; que o ;absorvem inteiramente; ; com qualquer outra. Um detalhe, entretanto, mostra como deve ter sido difícil para ele descartar a possibilidade de se tornar parlamentar. É que, em 14 de novembro de 1985, Niemeyer chegou a pedir transferência do título de eleitor do Rio para o Distrito Federal, o que tornaria apto em disputar, a partir daqui, uma cadeira no Congresso.

Niemeyer e o então governador do Distrito Federal José Aparecido, na praça dos Três Poderes, 
em 1986: arquiteto chegou a transferir o título de eleitor para Brasília, mas desistiu da candidatura
Clique para aumentarA carta endereçada a José Aparecido e os papéis do Serviço Público Eleitoral do Distrito Federal com o pedido de transferência de título ficaram guardados por mais de 25 anos e são revelados agora com exclusividade pelo Correio (leia fac-símile). Do material inédito sobre o arquiteto, os dois documentos estão entre os que mais revelam a faceta político-eleitoral de Oscar Niemeyer. Em 1986, o Distrito Federal elegeu pela primeira vez a representação política. Assim, havia na época três vagas para o Senado ; duas delas com oito anos de mandato e uma, com apenas quatro. A disputa era, portanto, considerada barbada para Niemeyer. Os eleitos participariam da Constituinte dois anos depois. Sem o arquiteto na disputa, os mais votados foram Maurício Corrêa (PDT), Meira Filho (PMDB) e Pompeu de Souza (PMDB), que, como terceiro colocado, passou quatro anos no cargo.



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