postado em 07/12/2012 08:47
Nos traços do arquiteto que deu formas sinuosas à capital federal, a silhueta da Catedral de Brasília desenhou o adeus a Oscar Niemeyer na capa do Correio de ontem. Em preto e branco e inteiramente dedicada ao maior nome da arquitetura brasileira, a homenagem estampada na primeira página do jornal selou um relacionamento nascido no dia da fundação da cidade e solidificado em linhas, traços e fotografias. Aqui, o mestre que transformou poesia em concreto e fez de Brasília obra de arte a céu aberto, foi muito além de uma personalidade de reportagens. As mãos que deram forma ao sonho de Juscelino Kubitschek desenharam capas memoráveis, escreveram homenagens à mais famosa de suas criações e teceram críticas aos que não cuidavam da cidade da forma como ela merecia. Ao longo dos últimos 52 anos, essas páginas transformaram em tinta as ideias, os sonhos, os desejos, as alegrias e as tristezas do homem que idealizou e imortalizou. Ao dar adeus a Niemeyer, o Correio também disse obrigado.
Brasília, meu amor foi o nome de um dos artigos de Niemeyer no Correio. Publicado no dia em que a capital federal completou 41 anos, o brasileiro que gravou o próprio nome na história da arquitetura moderna mundial, escreveu: ;Olho os jornais, as revistas estrangeiras, e constato, satisfeito, que Brasília está sempre presente. Uma cidade pensada e construída por brasileiros ; com o suor dos nossos irmãos mais pobres, que para ela acorreram confiantes, como se a vida fosse justa para todos;. Nas páginas do Correio, Niemeyer comemorou junto com os brasilienses ; os de berço e os de coração ; os aniversários da capital federal, criada com a missão de trazer o progresso para o interior do país. Lembrou os primeiros dias, o barracão coberto de zinco onde os palácios foram desenhados, os canteiros de obra. Falou do sonho de JK. Dos desafios. Das conquistas.
Criador zeloso, não abandonou aquela que fez nascer. Voltou a Brasília tantas e tantas vezes. Nem sempre gostou do que viu. Mas não se calou. Em uma das visitas, escreveu um inventário melancólico da cidade. Nos passeios, fez questão de registrar o que o desagradava em texto e fotografias. Da grade instalada entre a Praça dos Três Poderes e o Palácio do Planalto para conter os grupos que tentavam sensibilizar o governo com manifestações. Das propagandas que poluíam o visual de ;prédios pessimamente construídos; num desacerto inqualificável;. Da barreira montada à frente do Congresso Nacional. Niemeyer quis acertar os desacertos. Quis ter sua voz ouvida e seus pleitos atendidos. O fez no Correio, que publicou em 3 de maio de 1999 as imagens e os detalhes do documento escrito pelo arquiteto. Na reportagem, Niemeyer constatou: a arquitetura e o urbanismo de um dos patrimônios culturais da humanidade estavam sendo ;ofendidos por equívocos;. Só naquele ano, que sequer havia chegado à metade, o jornal havia publicado outros cinco artigos do mestre da arquitetura.



Na noite da última quarta-feira, o Correio manteve o tratamento especial dedicado nos últimos dos quase 105 anos de vida do artista. Toda a redação se mobilizou. O resultado foi uma edição histórica, elogiada nas bancas e nas redes sociais, dentro e fora do Brasil. Em inglês, um designer brasileiro parabenizou a primeira página do Correio no Twitter. Traduziu o significado da palavra ;adeus; e sintetizou: ;a morte de Oscar Niemeyer na ótima capa do jornal Correio Braziliense;. De Londres, outra designer retuitou. Jornalistas de vários lugares do mundo também reconheceram o trabalho jornalístico e criativo do periódico e divulgaram a capa, desde já histórica, na internet.

