Oscar Niemeyer

Obras de Niemeyer são usadas também para a diversão dos brasilienses

postado em 09/12/2012 09:35
Emiliano Câmara, Marcelo Amorim, Luis Felipe e Rafael Ângelo na praça do Museu da República: ponto de encontro de skatistas
Niemeyer ainda é apenas um nome difícil de falar para o menino Lucas Castro, 3 anos. Mesmo assim, o garoto já tem as linhas arrojadas do arquiteto marcadas na sua rotina de pequeno brasiliense. Todo dia, quando os pais saem para o trabalho, a babá o carrega no colo pela 307 Sul até a Igreja Nossa Senhora de Fátima, carinhosamente batizada de Igrejinha. É, lá, sob o chapéu de freira em concreto ; obra do projetista carioca que atrai a atenção de turistas e apaixonados por arquitetura do mundo todo ;, onde Lucas se diverte. ;Ele brinca que a Igrejinha é dele;, comenta a cuidadora do pequeno, Solange da Silva, 45.

Em outro ponto da capital da República, mais crianças e adolescentes usam as obras do mestre de outras formas. A estrutura oval que dá corpo ao Museu Nacional, instalado na Esplanada dos Ministérios, é a imponente pista de skate dos estudantes Rafael Ângelo, 14 anos; Emiliano Câmara, 18; Marcelo Amorim, 13; e Luís Felipe Rubinger, 16. Moradores de Águas Claras, os jovens aproveitam o período de férias para praticar o esporte em uma das criações mais famosas de Oscar Niemeyer em Brasília.

;A gente não usa os monumentos muito para fazer manobra porque o segurança não deixa. Mas entramos para ir ao banheiro e beber água;, conta Ângelo, com um sorriso no rosto. ;Às vezes, subimos ali na rampa e descemos. Uma vez, foram sete skatistas de uma só vez. O segurança veio brigar, tive que correr dele;, lembra Marcelo.

A rotina já deixou os olhos dos garotos acostumados. Não há mais aquele estranhamento e encantamento da primeira visita aos prédios modernistas do arquiteto do traço leve. Mas, entre um salto, uma queda e outra, quando fitam a construção dos ângulos mais inusitados, eles relembram que, sim, é um privilégio divertir-se ali.

Luane Cortes, no Ministério da Agricultura: vista para o Palácio da Justiça
;Para quem vem de fora, isso tudo impressiona. A gente mal percebe o que tem ao redor. Mas é muito legal andar por aqui, é muito bonito;, comenta Emiliano, enquanto um grupo de turistas orientais fotografava o monumento, todos boquiabertos. ;Esse lugar é o ponto de encontro do pessoal que anda de skate. Todo mundo gosta de vir pra cá;, conta Rafael.

Do oitavo andar
A beleza dos monumentos de Niemeyer também está no dia a dia da funcionária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Luanne Cortes, 28. Há oito anos, a pedagoga trabalha na Esplanada e, no caminho para o serviço, observa obras marcantes do mestre das curvas. E mais: da janela da sua sala, no oitavo andar do Bloco D, a brasiliense tem o Congresso Nacional e o Palácio da Justiça para servir de inspiração em meio às atribulações do trabalho.

;É lindo de se ver. A gente vem trabalhar e ganha todos esses monumentos de bônus;, comenta a servidora, que mora desde pequena em Taguatinga. ;Às vezes, não damos o devido valor às obras, porque está naquele vaivém da rotina. Mas tem dias em que eu paro e volto a me impressionar com o lugar. Brasília é uma cidade única;, emenda.

Solange da Silva leva Lucas Castro, 3 anos, para brincar na Igrejinha
Escorrega no Congresso
Quatro, cinco décadas atrás, quando tudo ainda era barro na capital, era no Congresso também onde a nordestina Gláucia Barreto, hoje com 68 anos, gostava de se divertir com os filhos. O prédio central da política brasileira se transformava em um playground das crianças. ;Eu levava os meninos para brincar de escorregar nas cúpulas. Naquele tempo, não tinha essa segurança toda de agora;, rememora a mãe de dois garotos.

Outra lembrança dos tempos de adolescência na capital que ainda resiste na memória da aracajuense também tem como cenário uma obra do homem que transformou Brasília em monumento: Cine Brasília, na Asa Sul. Era lá que Gláucia aproveitava o tempo livre na época de moça. ;Eu ia muito. Namorava, conversava com os amigos;, lembra a moradora da 714 Sul.

Outros carnavais
Na memória do aposentado Caio Bicalho, 69 anos, as recordações que permanecem mais vivas são dos carnavais das décadas de 1960 e 1970, em que o palco era o Teatro Nacional ; outro projeto do mestre carioca. ;Sempre ia para o baile de salão. Também tinha bingo. Gostava muito de passar por lá;, conta o mineiro, que se mudou para a capital há 50 anos e ajudou a erguer a capital da República.

Devido ao trabalho para a Companhia Energética de Brasília (CEB), o eletrotécnico viveu o fim da adolescência rodeado pelas obras de Niemeyer. ;A gente almoçava no Palácio da Alvorada, ia fazer manutenção nos ministérios, consertava os sinos da Catedral Metropolitana;, revive o aposentado. Mesmo depois de tanto tempo, enquanto caminha no fim de tarde por entre projetos de Niemeyer, o morador da 305 Sul ainda se admira com a beleza das construções. ;É único. Ele foi um herói;, conclui.

"Eu levava os meninos para brincar de escorregar nas cúpulas (do congresso). Naquele tempo, não tinha essa segurança toda de agora;, Gláucia Barreto, 68 anos, dois filhos

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