OsNomesDoMensalao

Deputado divide tempo entre campanha em Osasco e os trabalhos do advogado

Paulo de Tarso Lyra
postado em 08/08/2012 08:34
João Paulo Cunha (PT-SP) é o único dos réus que tem feito aparições públicas nos últimos dias
Único dos 38 réus do mensalão que concorre nas eleições municipais deste ano, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) estará hoje em campanha em Osasco (SP) enquanto o advogado Alberto Zacharias Toron tentará, perante os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubar as acusações de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. ;O fato de ele ser candidato mostra a segurança em sua própria inocência e a confiança em um julgamento justo por parte do Supremo;, afirmou Toron ao Correio.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu a condenação pela contratação, considerada irregular, da agência SMP, do empresário Marcos Valério, para fazer publicidade para a Câmara dos Deputados em 2003, na época, a Casa era presidida por João Paulo. Ele também teria contratado de forma irregular uma empresa de comunicação para prestar serviços diretamente a ele. Além disso, o próprio João Paulo Cunha confirmou, durante a CPI dos Correios, ter sacado R$ 50 mil em espécie da agência do Banco Rural no Brasília Shopping. Justificou que os recursos ; apontados pela procuradoria como um prêmio pela contratação da SMP ; foram, na verdade, utilizados para contratar pesquisa de opinião.

Segundo Toron, a agência de comunicação contratada por João Paulo não prestava serviços apenas ao petista, como alega Roberto Gurgel, e, sim, para toda a Mesa Diretora da Câmara. O criminalista também afirma que o modelo de contratação da SMP, que levou à acusação de peculato contra João Paulo, seguia os mesmos moldes de terceirização feitos por gestões anteriores à do petista.

Alberto Zacharias Toron afirma que os R$ 50 mil sacados pelo cliente foram usados para pagar pesquisa de opinião em Osasco
O criminalista afirma que o réu sacou os R$ 50 mil no Banco Rural para contratar pesquisas de opinião pública em seu reduto eleitoral, Osasco. E completa que o petista não pode ser acusado de lavagem de dinheiro. ;Em tese, o dinheiro já teria sido ;lavado; na operação envolvendo as empresas de Marcos Valério e o Banco Rural;, completou o advogado.

Por estar em campanha, o petista é o único dos réus que não se refugiou durante o julgamento. A expectativa é de que ele tenha uma agenda mais leve hoje. Até o fechamento desta edição, só estava prevista uma reunião de coordenação com seus auxiliares mais próximos. Durante o primeiro debate entre os candidatos, promovido pela Rede Bandeirantes, na semana passada, o assunto também não entrou em pauta. ;A população (numa campanha eleitoral) não gosta de quem fala mal de um ou de outro. Vim aqui para debater Osasco;, justificou o candidato do PSDB, Celso Giglio, rival de João Paulo.

Na pesquisa Ibope realizada no fim de junho, Giglio aparecia com 35% das intenções de voto. Em segundo lugar, estava o candidato do PSD, Osvaldo Vergínio, com 19%. João Paulo aparecia em terceiro, com 15%, o que pode ser considerado um empate técnico. Mas o petista apresentava, contra si, um índice de rejeição maior do que o líder tucano. Giglio era rejeitado por 22% dos eleitores e João Paulo, por 27%.

Declínio
O escândalo do mensalão abateu João Paulo Cunha, em rota ascendente na política. Líder do PT na Câmara durante o último ano de mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (2002), elegeu-se presidente da Câmara com uma votação acachapante: 434 votos a favor, 50 em branco e 9 nulos. Tentou, sem sucesso, modificar a Constituição Federal para assegurar um novo mandato à frente da Casa. Foi considerado o ;primeiro deslumbre do petista;.

Extremamente forte no PT, queria ser o candidato do partido ao governo de São Paulo em 2006. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferia o senador Aloizio Mercadante. Lula ofereceu a João Paulo a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), mas o deputado disse que só aceitaria se pudesse ser candidato ao governo estadual. Lula não concordou.

Poucos meses depois, João Paulo foi atropelado pelo mensalão. Foi bem votado em 2006 e em 2010, mas, dentro da bancada, já não gozava de unanimidade. Seu grupo político foi derrotado quando a legenda indicou Marco Maia para a presidência da Casa, em 2010. Por acordo interno, presidiu a Comissão de Constituição e Justiça no ano passado.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação