Helena Mader
postado em 17/08/2012 07:39
Depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou nulo o processo contra ele, o aposentado Carlos Alberto Quaglia tem apenas uma certeza: vai prosseguir na batalha judicial com o apoio de um defensor público. Acusado de atuar como doleiro para lavar dinheiro do esquema do mensalão, Quaglia vai responder por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro na Justiça Federal de Santa Catarina. Vários réus tentaram, sem sucesso, que os processos fossem remetidos à primeira instância. O argentino, que vive em Florianópolis, era o único réu representado por um defensor público e só ele conseguiu escapar do julgamento no Supremo.;O melhor de ser julgado por um juiz comum será fugir desse clima político que contaminou a Suprema Corte do Brasil. Isso é um circo que já dura sete anos;, afirmou Carlos Alberto Quaglia, em entrevista ao Correio. Ele ficou ;satisfeitíssimo; com o trabalho da Defensoria Pública, a quem recorreu com a alegação de não ter recursos para pagar um advogado. Segundo Quaglia, ele e a família vivem com um salário mínimo em um bairro de classe média de Florianópolis. Mas a maior satisfação do argentino foi ouvir do ministro Dias Toffoli que o magistrado o havia considerado inocente. ;O ministro disse que, mesmo que não anulassem meu processo, ele me absolveria. E afirmou isso a todos, mesmo sem ter a necessidade. Fiquei muito feliz, porque para mim é um reconhecimento da minha inocência.;
Com a remessa do caso para a primeira instância, será preciso designar um juiz para cuidar do processo, mas não será apresentada uma nova ação. Para fins de prescrição dos crimes, conta a data de recebimento da denúncia pelo Supremo, o que ocorreu em 2007. A Justiça Federal catarinense terá que ouvir pelo menos 13 testemunhas novamente. Esse é o total de pessoas que prestaram depoimento contra o acusado sem a presença de um representante legal de Carlos Alberto Quaglia.
Erro
O Supremo reconheceu publicamente que errou no caso do argentino. O primeiro advogado constituído pelo réu deixou o caso e Quaglia comunicou à Justiça que tinha outro representante. Mas o STF continuou a intimar erroneamente o primeiro defensor, o que, no entendimento dos ministros do Supremo, configurou-se como um cerceamento à defesa de Quaglia. Segundo a Procuradoria Geral da República, ele teria uma conta na corretora Bônus Banval, por onde circularam recursos cujos destinatários finais foram representantes do PP. O acusado nega todas as denúncias. ;Efetivamente, eu não tinha nada a ver com todo esse absurdo desse processo do mensalão, que é quase todo inventado. Compra de votos é uma coisa mais antiga do que a democracia e não é problema só do Brasil, mas de vários países;, afirmou Quaglia.
;Sempre estive tranquilo, porque eu sou muito mais inteligente do que eles acreditam. Foi um dos sócios da Bônus Banval que inventou essa historieta para proteger não sei quem;, acrescentou. Sobre o fato de seu defensor público, Haman Córdova, ter conseguido uma vitória no Supremo quando advogados estrelados não conquistaram o direito de seus clientes responderem na primeira instância, Quaglia riu: ;Isso é fantástico! Imagina que um banqueiro rico com advogado caríssimo saiu derrotado e eu, que não tenho nada, consegui. Não deixa de ser uma ironia;.