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Servidor da Câmara dos Deputados usa licenças para fugir dos holofotes

postado em 24/08/2012 08:25
Jacinto Lamas é acusado de ter recebido e movimentado valores a mando de Valdemar Costa Neto
Acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, o ex-tesoureiro e servidor da Câmara dos Deputados Jacinto Lamas, réu no julgamento do mensalão, não aparece no Congresso há mais de dois meses. Lotado na liderança do PR, Lamas solicitou ;licença por motivo de doença em pessoa da família; em junho, exatamente na mesma época em que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski liberou a Ação Penal 470 para votação, encerrando o trabalho como revisor do processo.

O primeiro pedido de licença, de 18 dias, com a alegação de problemas particulares, veio acompanhado de outro pedido, de licença para ;serviço externo;. No fim de julho, Lamas renovou o afastamento, alegando, novamente, licença por motivo de doença na família. Funcionários da liderança do PR informaram que o réu do mensalão está afastado para tratar de assuntos pessoais, e não para se ausentar do ambiente político durante o julgamento da ação penal. Servidores afirmam ainda que não tiveram a chance de questioná-lo sobre a preocupação com o próprio destino após o julgamento.

Lamas trabalha na Câmara desde 1976. Antes de ir para a Liderança do PR, o réu do mensalão trabalhava como auxiliar administrativo no gabinete do deputado Álvaro do Valle, falecido em 2000, de quem afirmou ter recebido uma herança em depoimento à Polícia Federal ; documento que integra a Ação Penal 470.

Documentos do volume 3 do mensalão, que trazem a lista de recebedores e valores movimentados por empresas de Marcos Valério, registram que Jacinto Lamas e Antônio Lamas, seu irmão, receberam R$ 2,4 milhões, em 14 parcelas, supostamente para o deputado Valdemar da Costa Neto, entre 16 de setembro de 2003 e 19 de fevereiro de 2004.

A tese de que Jacinto Lamas agiu apenas como funcionário da estrutura política do PR ; na época em que ainda se chamava PL ; a mando de Valdemar, é o principal argumento da defesa do servidor da Câmara. Seu advogado, Délio Lins e Silva, chegou a afirmar que ele só integrou a denúncia do Ministério Público Federal porque seu sobrenome remete à jargão midiático. ;Qual o foi o critério para ser denunciado? O sobrenome? Jacinto Lamas nas mãos? Antônio Lamas nos pés?;, apelou o advogado, em sua sustentação oral no STF. ;Esse fato, trago para mostrar que, nesse Brasil, o pau só quebra nas costas do pequeno. O cassetete só rola nas costas do humilde;, completou, afirmando que o irmão de Jacinto, Antônio Lamas, foi demitido e continua desempregado.

À Polícia Federal, Jacinto Lamas informou que, em junho de 2003 Valdemar da Costa Neto solicitou que ele ;ficasse atento; para receber a ligação de ;uma pessoa vinculada ao tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares;, que iria entregar valores em dinheiro de um acerto que havia sido realizado entre os dois na campanha de 2002.



Bens
Lamas negou ter recebido qualquer percentagem nas quantias recebidas a mando do presidente do PR. Durante seu depoimento, os policiais pediram que ele listasse os bens que compunham seu patrimônio e a renda como funcionário da Câmara. Ele disse que tinha remuneração mensal de R$ 19 mil, era proprietário de uma casa no Lago Sul, um apartamento na Asa Norte e dois carros, das marcas Honda e Land Rover.

Dos três crimes apontados pela denúncia do Ministério Público Federal contra Lamas, somente o delito de lavagem de dinheiro pode levar à punição se o pleno do Supremo Tribunal Federal determinar pena mínima ao servidor da Câmara (veja quadro). Ainda não é possível determinar, com precisão, quando os ministros do Supremo julgarão Lamas, mas estima-se que a análise ocorra dentro de uma semana.

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