Ana Maria Campos
postado em 31/08/2012 07:47
Seis dos nove ministros que votaram pela condenação do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) fazem parte da era petista. Entre eles, quatro foram nomeados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dois pela presidente Dilma Rousseff. A posição dos ministros Cezar Peluso, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Rosa Weber já seria suficiente para mandar o parlamentar à prisão, mesmo sem os votos dos magistrados mais antigos.
Implacável contra os réus na ação penal do mensalão, o relator do caso, Joaquim Barbosa, chegou ao Supremo em 2003, pelas mãos do então presidente Lula. Na época, o petista quis nomear o primeiro ministro negro do STF. Escolheu um integrante do Ministério Público. Hoje, o magistrado é visto como um dos principais adversários do PT. Foi ele o primeiro a afastar a tese de que o esquema do mensalão não passou de caixa dois para o pagamento de dívidas eleitorais.
Na mesma linha, os dois ministros indicados por Dilma ; Rosa Weber e Luiz Fux ; foram duros. Seguindo o relator, ambos condenaram João Paulo, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato (petista que operou um esquema de corrupção no BB), o empresário Marcos Valério e dois ex-sócios. Rosa Weber rechaçou a tese de que os R$ 50 mil sacados pela mulher de João Paulo, Márcia Regina, tiveram origem no PT e foram usados para financiar uma pesquisa pré-eleitoral em Osasco (SP).
Cezar Peluso, Ayres Britto e Joaquim Barbosa, os três primeiros integrantes do Supremo nomeados por Lula, antes de o escândalo do mensalão vir à tona, condenaram cinco dos seis réus julgados até aqui ; o único absolvido, inclusive a pedido do órgão acusador, o Ministério Público, foi o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Luiz Gushiken.
Já Peluso, que se aposenta hoje, foi menos incisivo em relação às condenações, pois absolveu João Paulo de um dos peculatos e da acusação de lavagem de dinheiro. No entanto, conforme avaliam advogados do caso, fez o voto mais rigoroso, no qual ironizou as desculpas do petista para explicar a origem dos R$ 50 mil e desconstruiu as teses da defesa. ;O que estava por trás dessa aproximação e dessa gentileza de Marcos Valério com João Paulo Cunha? Não se tratava de cortesia ou elegância, mas interesse econômico;, enfatizou Peluso. ;Esse dinheiro não era do PT, partido que estava insolvente;, atacou.
Na quarta-feira, após Peluso fazer seu último voto, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos lembrou ter participado do processo de escolha do ministro. Hoje, na condição de um dos principais advogados no processo e autor da tese de que o dinheiro recebido por políticos se destinava unicamente ao caixa dois de campanhas, Bastos vê os ministros que ajudou a escolher desconstruírem sua versão.
Também nomeada por Lula, Cármen Lúcia chegou ao Supremo em junho de 2006, depois da denúncia do mensalão. A expectativa de caciques do PT de que ela poderia absolver João Paulo foi por água abaixo. Cármen Lúcia afirmou que houve corrupção e atribuiu os crimes cometidos por acusados no processo à ;certeza de impunidade;. Os únicos a inocentarem João Paulo de todos os crimes foram Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, ambos indicados por Lula.
Lamentação
Com a conclusão da primeira fase do julgamento, ontem, membros da cúpula do PT não escondiam o desapontamento com o placar da votação. ;Com tantos ministros indicados pelo Lula e pela Dilma, só dois votaram contra a condenação;, disparou um petista. Outro correligionário de João Paulo Cunha lembrou o samba eternizado na voz de Beth Carvalho ao traduzir o sentimento da legenda. ;Lembra daquela música? Você pagou com traição/a quem sempre lhe deu a mão? É isso que nós estamos vendo;, disse o político.
A assessoria de imprensa do STF divulgou ontem a parte do voto de Peluso que se refere à dosimetria das penas. O ministro corrige a pena de Pizzolato, elevando-a de oito para 12 anos e um mês de prisão em regime fechado. Ao fim da sessão de ontem, Peluso foi novamente homenageado pelo presidente do STF, Ayres Britto. ;Saio com a consciência tranquila de dever cumprido;, afirmou Peluso.