Sete anos depois de provocar um abalo na República pelas denúncias do mensalão, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, vai enfrentar, a partir de hoje, o julgamento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em meio a um tratamento de câncer, o político pode ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O advogado do petebista, Luiz Francisco Barbosa, tenta amenizar uma eventual pena, com a colaboração do réu no esclarecimento dos fatos. Mesmo sem delação premiada, a lei permite esse benefício no cálculo da pena. Mas, a depender da ótica, essa ajuda pode comprometê-lo. Jefferson é o único que não pode alegar inocência, nem mesmo que não sabia da existência de um esquema criminoso envolvendo Marcos Valério. O empresário ficou conhecido nacionalmente justamente pelas denúncias do petebista.
Jefferson confessou que dirigentes do PTB negociaram com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares o recebimento de R$ 20 milhões em cinco parcelas. Parte do dinheiro, segundo relato do próprio Jefferson, foi pago diretamente por Marcos Valério. Dirceu e Luiz Inácio Lula da Silva sabiam de tudo, de acordo com o petebista, que tentou, em vão, até o último minuto, arrastar o ex-presidente da República para a denúncia do mensalão.
Na ação, a Procuradoria Geral da República sustenta que Jefferson recebeu R$ 4 milhões diretamente de Marcos Valério, sendo a primeira parcela de R$ 2,2 milhões e outra de R$ 1,8 milhão, em cédulas envoltas em fitas do Banco Rural e do Banco do Brasil.
Núcleo político
Em 23 sessões realizadas desde 2 de agosto, os ministros já condenaram 10 pessoas e absolveram apenas três. Agora chegou a vez do núcleo político. O item 6 da denúncia é dividido em quatro subitens. Cada um trata dos supostos pagamentos de propinas a partidos da base aliada do governo. O primeiro se refere ao PP. Os demais dizem respeito ao PL (atual PR), ao PTB e ao PMDB.
O relator, Joaquim Barbosa, deve fazer um voto contínuo abrangendo todos os quatro subitens, para somente depois o revisor, Ricardo Lewandowski, votar. A tendência é que Barbosa leve até duas sessões para apresentar seu voto.
Logo que começar a sessão, os ministros vão debater sobre a convocação de reuniões extras para acelerar o julgamento. Nesse item, 23 réus serão julgados.
Conforme relatou o ministro Dias Toffoli na última sessão, o julgamento finalmente chega na fase em que será avaliado se o mensalão propriamente dito ocorreu. A maior parte dos ministros já desconstruiu a tese de que os recursos oriundos de empréstimos obtidos pelas empresas de Marcos Valério e repassados para políticos teriam servido para abastecer caixa 2.
Os próximos réus
Confira pessoas ligadas ao núcleo político que serão julgadas a partir desta semana, e as acusações que pesam contra elas no item seis da Ação Penal 470
Anderson Adauto
; Ex-ministro dos Transportes, hoje prefeito reeleito de Uberaba (MG), é acusado de ter recebido R$ 950 mil de Marcos Valério e de ter intermediado apoio político.
Antônio Lamas
; Era assessor do PL na Câmara. Hoje, trabalha como gerente de uma casa lotérica. Foi acusado de intermediar repasses ao PL, mas a PGR pediu a absolvição dele por falta de provas.
Bispo Rodrigues
; Era deputado pelo PL-RJ e vice-presidente do partido. Hoje, é sócio de emissoras de radio e tevê. É acusado de ter recebido propina para votar a favor do governo.
Delúbio Soares
; Apontado como o grande operador financeiro do esquema. Segundo a denúncia, era o elo entre o núcleo político e Marcos Valério. Era tesoureiro do PT e, depois do escândalo, deixou o partido, mas retornou e tem pretensões de se candidatar.
Emerson Palmieri
; Era tesoureiro informal do PTB e diretor da Embratur. Hoje, é fazendeiro. Acusação: ajudou a intermediar a propina em favor do PTB.
Jacinto Lamas
; Ex-tesoureiro do PL, hoje funcionário da Câmara, responde por intermediar repasses ao PL.
João Cláudio Genú
; Era assessor do então deputado José Janene. Hoje, tem empresa de gestão empresarial e consultoria imobiliária É acusado de ter sido o intermediário do Valerioduto para o PP.
José Borba
; Era deputado e líder do PMDB. Hoje é prefeito de Jandaia do Sul (PR). Acusado de ter recebido propina para votar a favor do governo.
José Dirceu
; Ex-ministro-chefe da Casa Civil, apontado como o líder do esquema. Era deputado federal, mas por causa do escândalo do mensalão teve o mandato cassado em 2005. Está inelegível até 2014, mas ainda tem grande influência no PT.
José Genoino
; Ex-presidente do PT e ex-deputado, trabalha como assessor no Ministério da Defesa. Assinou empréstimos com a SMP que o STF já concluiu como simulados. É acusado de ter intermediado acordo com vantagens financeiras com partidos.
Marcos Valério
; É considerado o operador do mensalão. Nas primeiras semanas do julgamento, já foi condenado por corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.
Pedro Corrêa
; Era deputado federal (PP-PE) e presidente do PP. Hoje, ainda integra a direção nacional do partido. Acusação: receber propina em troca de apoio ao governo e lavar dinheiro.
Pedro Henry
; O deputado federal (PP-MT) era líder do partido na época. Acusado de ter recebido dinheiro em troca de apoio ao governo.
Roberto Jefferson
; Delator do esquema do mensalão, era deputado federal e teve o mandato cassado por causa do escândalo, em 2005. Teria recebido R$ 10 milhões para levar o PTB a apoiar o governo. Hoje é presidente nacional do partido.
Romeu Queiroz
; Ex-deputado federal (PTB-MG), hoje é deputado estadual pelo PSB. Acusação: pegou dinheiro para o PTB e para si próprio e ocultou a origem.
Valdemar Costa Neto
; Deputado federal pelo PR-SP, era parlamentar do PL. Acusado de receber dinheiro em troca de apoio político, será julgado por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.