O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse ontem, antes do início dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal (STF), que é preciso ;cuidado; com comentários polêmicos feitos em meio ao julgamento do mensalão. Ele se referia à reportagem sobre Marcos Valério na revista Veja em que o empresário supostamente afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria conhecimento do esquema criminoso. Para ele, não existe necessidade de ouvir novamente o publicitário mineiro no processo ou incluir o ex-presidente na Ação Penal 470. ;Neste momento, não acho que seria adequado. Não se sabe exatamente que tipo de jogo esta sendo feito. Marcos Valério é uma pessoa que, ao longo de todo esse processo, deixou muito claro que é jogador. É preciso então ver que tipo de jogo está sendo feito;, completou.
Os presidentes do PPS, PSDB e DEM devem se reunir hoje para decidir se apresentam um requerimento para que o Ministério Público Federal investigue as denúncias. O grupo está dividido. O presidente nacional do PPS, Roberto Freire (PE), defende que, mesmo que a suposta fita com a entrevista do operador do mensalão não seja apresentada, as denúncias são graves e precisam de investigação. ;O mensalão não é mais um conto de fadas, o STF não está julgando uma obra de ficção;, completou.
O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), soltou nota no fim de semana afirmando que ;se confirmadas as revelações, fica evidenciado que o mensalão estava instalado no Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada, símbolos maiores do Poder da República;. Internamente, no entanto, o presidente demista é mais cauteloso e tem dito a pessoas próximas que o partido só apresentará uma representação ao MPF se as denúncias forem comprovadas.
O procurador Roberto Gurgel ressalta o difícil momento em que o publicitário está passando no julgamento. ;A gente tem esse tipo de declaração no momento em que ele (Valério) aparentemente já se ressente das condenações, então a gente precisa tomar muito cuidado;, comentou Gurgel. Ele garantiu que essas declarações não interferem no andamento do processo no STF. ;Mas a partir daí, pode surgir material eventualmente para instauração de outro inquérito. Vamos aguardar para ver como as coisas se desenrolam;, acrescentou o procurador. ;Já temos diversos procedimentos no primeiro grau e isso pode ser examinado lá. Mas é claro que são declarações importantes, que devem ser examinadas;, acrescentou Gurgel.
Contestação
Embora com o foco nas eleições municipais, o PT já começa a se preparar para enfrentar o que está sendo chamado de ;processo do mensalão pós-STF;. Diante da possibilidade cada vez mais concreta da condenação em massa dos petistas pelo ministros do Supremo, a próxima etapa, na visão de dirigentes partidários, seria trazer Lula para o centro do mensalão. Pessoas envolvidas no julgamento defendem que o PT deveria ter se pronunciado de forma incisiva no fim de semana para rebater a matéria. O silêncio total, nesse caso, teria prejudicado a ;desmontagem da tese apresentada pela revista;, segundo apurou o Correio. Quando a reportagem foi publicada, no sábado, a assessoria de Lula estava envolvida com a viagem que o ex-presidente faria para Salvador. Já no PT, os focos de preocupação eram os dois comícios que o candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, no mesmo dia.
No domingo, o assunto também passou em branco antes da reunião no Centro de Tradições Nordestinas (CTN), de São Paulo, onde governadores aliados do Nordeste se reuniram para um ato de campanha de Haddad. Após o almoço, coube ao governador da Bahia, Jaques Wagner, desmentir a informação de que Lula tenha se encontrado com Marcos Valério no Palácio do Planalto.
A Executiva Nacional do PT reuniu-se ontem em São Paulo e divulgou nota sobre a conjuntura político-eleitoral. O documento afirma que ;a mobilização geral de nossa força militante é a condição fundamental para nosso sucesso, pois é a militância consciente quem desfaz as mentiras;. Questionado sobre quais seriam essas mentiras, Rui Falcão afirmou que ;são mentiras que sempre surgem na épocas das eleições;.