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Dirceu só deve ser julgado às vésperas do 1º turno das eleições

Helena Mader, Ana Maria Campos
postado em 20/09/2012 07:52
Barbosa deve concluir na sessão de hoje o seu posicionamento sobre compra de votos de políticos no Congresso e de apoio ao governo Lula

O delator do esquema do mensalão, Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, não escapou do rigor do relator do processo, Joaquim Barbosa. No voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o petebista que apresentou ao país o esquema operado pelo empresário Marcos Valério foi considerado corrupto. Barbosa também incluiu entre os culpados o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Nas duas sessões realizadas nesta semana, Barbosa tratou da compra de votos de políticos no Congresso e de apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Até agora condenou 11 pessoas apenas nesse capítulo, sendo seis ontem. Hoje à tarde, o relator prosseguirá com seu voto e deverá condenar Jefferson e outros petebistas também por lavagem de dinheiro. Ele ainda analisará denúncia contra José Borba, que na época era deputado pelo PMDB-PR e atualmente é prefeito de Jandaia do Sul (PR) pelo PP.

Para o relator, Roberto Jefferson se vendeu para o esquema que delatou. Ele teria passado a receber dinheiro de Marcos Valério a partir de dezembro de 2003 em função de um acordo com o PT que previa repasse de R$ 20 milhões para o PTB. Desse montante, o presidente do PTB recebeu R$ 4 milhões em espécie. ;Considero impensável admitir que os repasses feitos dessa maneira sejam harmonizáveis com o sério exercício da função parlamentar pelos beneficiários;, apontou Barbosa.



Ao deixar o hospital no Rio de Janeiro ontem, onde esteve internado desde a semana passada com uma infecção intestinal decorrente de um câncer, Jefferson comentou o processo do mensalão: ;Essa é a fase decisiva do julgamento. É muito angustiante e cruel, mas faz parte da democracia;. Pelo Twitter, o petebista também se manifestou. ;Não foi por falta de avisos e, por isso, era mesmo de se esperar: o STF entrou de vez nas eleições e na campanha;, afirmou, sobre o cronograma do julgamento.

Compra de votos

Com a continuidade do voto de Barbosa, o STF deu mais um passo ontem no sentido de reconhecer que houve compra de parlamentares. Ele detalhou que deputados do PTB e do PL (atual PR) receberam dinheiro. De acordo com o relator, o ex-presidente do PL Valdemar Costa Neto ;levou milhões para apoiar o governo;.

Na segunda-feira, Joaquim já havia manifestado voto pela condenação de dois integrantes da cúpula do PP na época do escândalo ; o deputado federal Pedro Henry (MT) e Pedro Corrêa (PE) ;, além do assessor João Cláudio Genú. O PT teria repassado pelo menos R$ 4,1 milhões em troca de apoio do PP. Sobre o PL, Barbosa alertou que os pagamentos do PT eram semanais, feitos às sextas-feiras e sempre em quantias superiores a R$ 100 mil em espécie. Os recursos chegavam à legenda pelas mãos de Jacinto Lamas, que buscava envelopes entregues por Simone Vasconcelos, gerente financeira da SMP.

O esquema funcionava também por meio de lavagem de dinheiro transferido para a empresa Guaranhuns Empreendimentos que recebia cheques e transferências eletrônicas da SMP e repassava dinheiro vivo para políticos do PP. Valdemar às vezes recebia pagamentos em casa, como ressaltou Barbosa. E rebateu a tese da defesa de caixa dois: ;Se os réus pretendiam apenas pagar dívidas de campanha, por que escolheram forma tão sofisticada de recebimento do dinheiro?;.

Os donos da Guaranhuns, Lúcio Funaro e José Carlos Dias, deram detalhes do esquema por meio de um acordo de delação premiada e não foram denunciados pela Procuradoria Geral da República. Eles respondem em primeira instância e podem conseguir benefícios como redução da pena ou perdão judicial. Irmão de Jacinto Lamas, Antônio Lamas foi absolvido por falta de provas, no voto do relator, como recomendou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

A situação de cada um

Confira os réus condenados ontem pelo relator Joaquim Barbosa, no capítulo seis da denúncia. Na última segunda-feira, o ministro já havia votado pela punição a cinco réus ligados ao PP.

Valdemar Costa Neto (PR-SP)
Ex-presidente do Partido Liberal (PL), o deputado federal acabou condenado pelo relator por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de ter recebido mais de R$ 10 milhões do PT em repasses feitos pelas agências do empresário Marcos Valério.

Bispo Rodrigues
O ex-deputado federal do PL do Rio de Janeiro foi condenado por Joaquim Barbosa pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele recebeu R$ 150 mil do PT, por meio de seu motorista, que buscou a quantia em uma agência bancária.

Jacinto Lamas
O ex-tesoureiro do PL também acabou condenado pelo relator por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. De acordo com a acusação, ele buscava semanalmente envelopes de dinheiro em espécie e entregava os recursos para o então presidente do partido Valdemar Costa Neto.

Roberto Jefferson
Presidente do PTB, o ex-deputado foi condenado pelo relator por corrupção passiva. Segundo Joaquim Barbosa, o responsável por denunciar o esquema passou a receber, a partir de dezembro de 2003, dinheiro do valerioduto. Levou R$ 4 milhões em espécie das empresas de Marcos Valério. Jefferson ainda será julgado por lavagem de dinheiro.

Romeu Queiroz
O ex-deputado federal pelo PTB de Minas Gerais, atualmente deputado estadual pelo PSB, teve a condenação recomendada por Barbosa por corrupção passiva. Ele recebeu dinheiro e ocultou a origem. Queiroz ainda será julgado por lavagem.

Emerson Palmieri
O tesoureiro informal do PTB na época do escândalo foi condenado pelo relator por corrupção passiva. Ele ajudou a intermediar a propina do mensalão em favor do PTB.

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