Jornal Correio Braziliense

Pensar Brasilia

Construção de ciclovias incentiva brasilienses a usar bicicletas

Ache o capacete e tire a poeira daquela bike esquecida. Ciclovias ao lado de calçadas, ciclofaixas sinalizadas nas vias, trechos compartilhados e integração com outros transportes: todo esse aparato poderá fazer parte da paisagem urbana da capital do país até 2014. A promessa é feita pelo Governo do Distrito Federal (GDF), que investiu, em junho, R$ 29,7 milhões para a construção de 80km de sistema cicloviário no Plano Piloto, no Guará, no Gama, no Paranoá e em Ceilândia.

No futuro, quem quiser guardar o ;camelo; terá à disposição paraciclos e bicicletários. O primeiro modelo, segundo o projeto, será expandido da Rodoviária do Plano Piloto, onde já existem, para o Eixo Monumental, estações de metrô e órgãos públicos. O segundo será instalado também na rodoviária e terá capacidade para guardar 420 bikes.

Deixou a bicicleta em casa e vai precisar se deslocar com mais rapidez? Calma, a Brasília ciclável terá equipamentos prontos para serem alugados em locais de grande circulação de pessoas. E mais: na hora de o ciclista pegar o ônibus, a magrela poderá ser carregada em racks na parte frontal do veículo. No BRT e VLT, o espaço dela ficará no último vagão, como já ocorre com o metrô.


Com cenário distante da realidade atual e curto prazo, o projeto do GDF pretende beneficiar as 28 regiões administrativas. Para correr contra o tempo, foi criado em agosto de 2011 o Comitê Gestor da Política de Mobilidade Urbana por Bicicletas, responsável pela elaboração e execução do programa. ;As ciclovias que estão em obras nas cinco regiões deverão ficar prontas em outubro e todo o projeto estará funcionando na Copa do Mundo;, reforça Paulo Alexandre Passos, coordenador suplente do comitê.

Passos conta que o projeto original chamava-se Pedala DF e data de 2006. ;Já está antigo e, de lá para cá, as cidades mudaram. Por isso, estamos adequando o que foi licitado para a realidade atual;, explica o coordenador. ;Antes, previam-se somente ciclovias, mas agora serão construídas ciclofaixas, ruas e calçadas compartilhadas, e haverá integração com outros transportes;, exemplifica e acrescenta que a ideia de dividir a mobilidade com ônibus e metrôs, por exemplo, é uma sugestão do Ministério das Cidades. Um estudo divulgado pela pasta afirma que o trajeto de bike é confortável apenas até 7km.

Cultura
Segundo o Sistema de Indicadores de Percepção Social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado em janeiro, o que faz alguém aderir à bicicleta é a rapidez, em primeiro lugar, e o baixo custo, em segundo, mas para tornar os brasilienses ciclistas assíduos ainda resta um longo caminho de educação e mudança de hábito. O servidor público e presidente da ONG Rodas da Paz, Uirá Felipe Lourenço, de 33 anos, vendeu o carro para fazer um intercâmbio em 1997. Desde então, faz tudo de bike: vai ao trabalho, leva os dois filhos pequenos à escola e passeia com a esposa. Até hoje, ele afirma ser visto como um excêntrico pelos colegas e vizinhos. ;Pedalo não apenas por ideologia, mas por ser um transporte sustentável, ágil, fácil de estacionar e com benefícios para a saúde;, defende.

Mesmo com o número incipiente de ciclistas na capital, Lourenço não tem dúvidas de que o futuro cenário da cidade será sobre duas rodas. ;É uma questão cultural e acredito que irá mudar para melhor em cinco anos, assim como aconteceu com a campanha da faixa de pedestre;, compara. Ele embasa suas previsões com as características amigáveis de Brasília: relevo plano e período prolongado de seca. ;Sonho com o nosso espaço público tendo mais vida, voltado para as pessoas e não para as máquinas. Em vez de grandes estacionamentos, espaços com bibliotecas, quadras de esporte, banquinhos;, projeta Lourenço.

O especialista em segurança de trânsito David Duarte Lima também é um entusiasta da bike, pois ela aproveita menos espaço urbano, enquanto um carro precisa de 10m;. ;A bicicleta é o veículo que tem maior capacidade de transporte por área e isso precisa ser olhado pelo Estado como o futuro;, afirma Lima. ;É possível criar uma infraestrutura que dê confiabilidade para os diversos modos de transporte e não crie conflitos;, vislumbra o especialista.