postado em 04/09/2012 16:36
Com o intuito de instituir as diretrizes para a área de transporte no Brasil, foi aprovada em abril deste ano a Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12.587). Um dos principais pontos da nova legislação é a prioridade do transporte público sobre o individual. O documento prevê uma série de medidas, como integração, promoção da equidade, melhoria da eficiência, incentivo à pesquisa e à elaboração de projetos de mobilidade urbana.Mesmo com a nova lei, os desafios ainda são grandes, pois pesquisas apontam a utilização crescente de carros enquanto o uso de ônibus, trens e metrôs diminui cada vez mais nas principais cidades do Brasil. Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Carlos Henrique Carvalho, autor do estudo A mobilidade urbana no Brasil, essa é uma tendência observada nos últimos anos ; de 1977 a 2005, o número de usuários de transporte público caiu de 68% para 51%.
Para o especialista, é preciso criar uma política que estimule o uso racional do automóvel. ;Não podemos impedir as pessoas de comprarem carros, pois esse é um importante ponto do desenvolvimento nacional. Porém, são necessárias políticas públicas que promovam uma utilização mais eficiente. No dia a dia, as pessoas devem usar o transporte público e, nos fins de semana, utilizam o carro;, opina Carvalho.
Henrique Carvalho explica que o ponto principal para a diminuição da frota de veículos em circulação no Distrito Federal é o investimento na melhoria do transporte público, tornando-o tão veloz, confortável e cômodo como o individual. O pesquisador alerta que, caso isso não seja feito, é muito difícil alterar o panorama atual.
"Ao mesmo tempo em que o acesso ao transporte individual foi facilitado, a qualidade do sistema público caiu. Isso gera um círculo vicioso, pois as pessoas saem dos meios coletivos e partem para o privado. Tal fator leva a uma fuga de recursos, que diminuem os investimentos na área, gerando os problemas que agora afloram;, constata. Ele aponta que a utilização dos corredores de ônibus pode ser uma solução para o problema. ;Em cidades como Curitiba e Bogotá, esse sistema é muito bem avaliado.;
Para o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, mudar a imagem que a população tem do transporte público é um ponto essencial para que as pessoas diminuam o uso do carro e passem a utilizar ônibus. ;Tenho certeza de que o motorista preso no engarrafamento, ao olhar um ônibus andando mais rápido e com boa aparência, vai preferir utilizar o coletivo;, opina.
Segundo os dados da NTU, um veículo biarticulado é capaz de transportar 270 passageiros e por conta disso, cada um deles tiraria 207 carros das ruas. Para Cunha, o investimento em transporte público já mostrou ser a arma mais eficaz contra o excesso de congestionamentos. ;Bogotá é um exemplo clássico disso. Eles estimularam os ônibus e como consequência os passageiros migraram porque viram que conseguiam se deslocar mais rapidamente.;
Ele explica que a opção pelo BRT é a ideal para um primeiro momento, mas, em seguida, é necessário investimentos em outros tipos de meios de transporte. ;Por conta de eventos como a Copa do Mundo, o país precisa de soluções rápidas e o BRT é o mais indicado. No entanto, em seguida também se precisa pensar em soluções como trens, metrôs e VLT. Tudo deve ser integrado;, afirma.