Um trabalhador acorda e pega um metrô até o terminal da Asa Sul. Lá, embarca em um veículo leve sobre trilhos (VLT) rumo à Rodoviária, para, em seguida, subir em um micro-ônibus que o deixará na Esplanada dos Ministérios. Os meios de transporte saem em horários sincronizados ao preço de uma única passagem. O que ainda parece cena de ficção em Brasília é realidade em outras metrópoles e sintetiza um dos principais pontos de discussão para o transporte público no Distrito Federal: a integração.
A ideia básica da integração é unir os distintos meios de transportes para tornar a mobilidade urbana mais eficiente. Em Londres, em Paris e em Berlim , o deslocamento não funciona embasado em apenas um modo de locomoção. Ônibus, metrô e trens de superfície operam de maneira harmonizada, proporcionando mais conforto, velocidade e praticidade aos usuários.
Integrar, ao contrário do que o nome sugere, não é apenas juntar meios de transporte. Em realidade, trata-se de um processo mais complexo que une planejamento, economia, engenharia de trânsito e urbanização. Paulo Cesar Marques, professor do Programa de Pós-Graduação em Transportes (PPGT) da Universidade de Brasília (UnB), alerta que é necessário pensar o processo de maneira global e coesa.
;A integração deve ser tarifária (paga-se um único preço por diferentes passagens), física (entre os diferentes tipos de veículos), horária e institucional. Todo o processo precisa ser administrado pelo governo. Em resumo, é preciso pensar o sistema de transporte público de maneira unificada;, afirma.
O especialista ainda comenta que, independentemente do meio adotado, é possível desenvolver um sistema de transporte integrado para o Distrito Federal. ;A utilização exclusiva de ônibus pode representar uma solução mais fácil e barata para a cidade, desde que opere de maneira harmonizada. Na verdade, dentro de um bom planejamento, qualquer sistema é bom;, ressalta.
Capilaridade
A coordenadora do projeto Cidade Verde e Mobilidade Sustentável da UnB, Maria Rosa Abreu, explica que o sistema de transporte público deve funcionar de maneira capilar. Uma parte responsável por grandes deslocamentos, e outra, auxiliar, para trajetos de menor porte. ;O trânsito deve funcionar como o organismo. As artérias transportam o grosso do sangue e as veias menores o levam até os órgãos;, exemplifica.
Ela argumenta que, caso funcione de forma eficiente, o transporte público torna-se muito mais rápido e prático para os usuários. ;O ideal é que se espere menos de cinco minutos durante a conexão das linhas. Os principais problemas apontados, como a impontualidade, são frutos da falta de integração;, comenta.
Morador do Guará, o vendedor Bruno Antun, 24 anos, utiliza transporte público para atividades de lazer e trabalho. Para ele, cada estação do metrô deveria funcionar como uma minirrodoviária. ;Ao invés de dedicar tanto investimento para ampliar o metrô, seria bem mais eficaz aumentar a integração com as linhas de ônibus. Isso resolveria o problema de deslocamento. Atualmente, há poucas linhas e o processo não é eficiente;, opina.
Paulo Cesar vai além e afirma que a integração é um dos elementos essenciais para a melhoria do trânsito em Brasília. ;O sistema ficaria mais atrativo para as pessoas, com pontualidade, agilidade e conforto. Afinal, desenvolve-se uma utilização mais racional e eficiente e é possível se deslocar mesmo em grandes distâncias. Isso acarreta em uma diminuição no uso dos automóveis;, salienta.
Especialista em transporte público, Carlos Penna afirma que a integração é pedra fundamental para as soluções na área. Ele comenta que, com o crescimento de Brasília, não é mais possível pensar em um sistema desintegrado. ;Os ganhos de uma rede de transporte urbano são diversos. A primeira e mais evidente é a velocidade, pois os deslocamentos ficam mais rápidos e eficientes. Sem integração, na verdade, nada modifica;, afirma.