postado em 24/09/2012 12:15
Tecnologia e ensino caminham lado a lado. O desenvolvimento daquela depende, em grande parte, dos esforços de professores, cientistas e alunos. Atualmente, computadores, internet e redes sociais também estão mudando a forma da educação tradicional. Salas de aula, livros, cadernos, lições passam por um momento de profunda alteração.Enquanto professores e alunos tentam se adaptar aos novos aparatos tecnológicos, pesquisadores procuram entender as alterações causadas pela tecnologia dentro da escola. Gilberto Lacerda, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), argumenta que, por conta da rápida evolução da ciência, é difícil prever quais serão os próximos passos dos seres humanos na área. Porém, o especialista garante que não dá para fugir dessa realidade. ;A escola não pode ignorar a tecnologia, pois isso seria nefasto para as futuras gerações. O digital é incontornável;, afirma.
Lacerda entende que a tecnologia ao adentrar os muros da escola promove uma revolução, inserindo a atual geração dentro de novas possibilidades de ensino. ;A escola tradicional é muito cadenciada, lenta, todo mundo aprendia em um ritmo muito igual. Isso era uma exigência da sociedade industrial. O digital permite ao aluno exprimir suas individualidades, a ser mais independente, o que força as instituições a mudarem;, opina.
O professor argumenta que a inserção dos meios digitais rompe com elementos básicos do sistema tradicional. ;As escolas têm que mudar, não tem mais sentido falar em grade curricular que determina como tudo funciona e pasteuriza o ensino. A tecnologia quebra esses rituais, os alunos ficam mais independentes. Se bem usada, a internet expande completamente os limites da sala de aula.;
O sociólogo e pesquisador na área de educação, ciência e tecnologia, Marcelo Cavalcanti Barra, coloca que os sistemas de ensino passam por um verdadeiro choque. De acordo com o especialista, os espaços tradicionais são reinventados por conta dos equipamentos cada vez mais presentes nas escolas.
Barra cita as mídias sociais como um exemplo. Para ele, essas ferramentas são capazes de alterar os métodos de ensino completamente. ;O livro, como representação do material tradicional dos estudantes, é um trabalho ;morto;, condensado, que está ali pronto e com poucas possibilidades de atualização. Com as redes sociais, o conhecimento não para de ser produzido.;
Sobre essa nova configuração do sistema de ensino, o sociólogo acredita que o papel dos estudantes atualmente é muito mais importante. ;Eu qualifico essa reviravolta como um processo de democratização da educação. Afinal, naquele coletivo da sala de aula, os estudantes, graças à tecnologia, passam a serem também os protagonistas daquele ambiente, alterando a tradicional relação de monopólio dos professores;, aponta.
Segundo Gilberto Lacerda, a inserção da tecnologia nas escolas deve ser feita de forma intuitiva e fazer parte do cotidiano do ensino. ;Os melhores exemplos são aqueles que acabaram com as salas de informática e levaram os computadores para dentro da sala de aula.; O especialista cita a lousa digital ; um quadro negro com acesso à internet e a softwares educacionais ; como um exemplo. ;Ela traz a informação para dentro do ambiente de aprendizado. Pode ser um ;portal; no qual os alunos saem para visitar o mundo;, ressalta.
Conservadorismo
A novidade, às vezes, assusta algumas pessoas. Essa é uma das explicações apontadas pelos especialistas para justificar a resistência ao uso da tecnologia nas escolas. Para Gilberto Lacerda, sãos dois os maiores problemas: a falta de preparo técnico dos professores e certo conservadorismo. ;As novas práticas de ensino passam pela questão dos gestores quererem empregá-las ou não;, reforça. Ele diz que gestores mais inovadores, sobretudo na rede privada de ensino, já produziram boas práticas com o uso do digital.
Marcelo Cavalcanti Barra vê no conservadorismo dos gestores um entrave na consolidação do digital nas escolas. ;A educação tem sido conservadora, muito corporativa. As decisões têm que ser baseadas nos anseios da sociedade. E a inserção tecnológica é um desses desejos coletivos.;
Internet amplia inclusão
Os dois especialistas ressaltam algo importante. Tecnologia custa caro e envolve um grande direcionamento de recursos para a educação. Investir em equipamentos, pesquisa científica, formação de professores capacitados e na infraestrutura das escolas é o caminho apontado para se chegar às escolas digitalizadas no Brasil.
;A educação nova vai ser o resultado de um processo que está totalmente atrelado à injeção de recursos na área. Com dinheiro para se investir em tecnologia, teremos uma revolução positiva no ensino, veremos a chamada ;sociedade em rede; emergir no Brasil;, atesta Marcelo Cavalcanti Barra. O especialista também comenta sobre a necessidade de se universalizar o acesso aos aparatos tecnológicos no Brasil. ;A educação é formadora. É preciso repensar a tecnologia como algo excludente, é um ponto que tem de ser abordado como uma questão de Estado;, completa.
;A tecnologia ainda é muito pontual tanto nas escolas quanto nas universidades. Ainda está muito restrito a algumas escolas, principalmente particulares. Não há universalização;, atesta Cavalcanti Barra.