Pensar Brasilia

Rede pública de ensino implanta política de educação ambiental nas escolas

postado em 27/09/2012 13:35
Os alunos de escolas públicas do Distrito Federal já podem se preparar para aprender mais sobre sustentabilidade, natureza e problemas ambientais. A Secretaria de Educação (SEDF) desenvolve uma política de educação ambiental para ser implantada na rede pública de ensino. No começo do ano letivo de 2013, os professores terão acesso a quatro projetos: horta, consumo consciente, dengue e cerrado. A iniciativa veio logo após o Conselho Nacional de Educação aprovar, em junho, diretrizes curriculares nacionais para a educação ambiental, que envolverão cerca de 13 mil escolas de educação básica no país.

O resultado de um questionário on-line, aplicado entre março e julho deste ano e respondido por metade das escolas públicas do DF, apontou que 60% delas (cerca de 400) trabalham com projetos ;verdes; ; ligados à temática das hortas e dos resíduos sólidos. Porém, o chefe do Núcleo de Educação Ambiental da SEDF, Henrique Rodrigues Torres, ressalta que essas ações ainda são individuais e dependem da boa vontade dos professores. ;Esperamos, com a política, termos mais escolas sustentáveis, preparadas para um novo modelo de sociedade;, afirma.

Até o momento, a política distrital inclui os quatro projetos, gerados pelo resultado do levantamento; em uma rede de educadores ambientais, formada pelos professores mais envolvidos com a temática; e na preparação para a Conferência Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, prevista para ocorrer em junho de 2013 e que discutirá a eficiência da política.

A iniciativa da secretaria é prioridade da rede de ensino pública, segundo a Lei distrital n;3.833, de 2006. O texto destaca, entre outras coisas, a realização de ações de monitoramento e participação das escolas em campanhas de defesa do meio ambiente, como reflorestamento ecológico e coleta seletiva de lixo. Apesar disso, segundo Torres, terá caráter voluntário. ;A escola que aderir terá suporte da regional de ensino com ações estratégicas, formação continuada e financiamento dos projetos;, enumera.

Outra iniciativa em prol do conhecimento ecológico é realizada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram). O órgão lançou edital para contratar um consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o objetivo de mapear ações em todo o DF.
Rotina

Mãozinhas preparadas para mexer na terra molhada, olhinhos e ouvidos atentos aos ensinamentos do ;tio; Adolpho Kesselring, o Fuica, para mais uma atividade na horta. A aula de educação ambiental já é comum até mesmo para os pequeninos de uma creche e escola do Guará. Uma vez por semana, os alunos da pré-escola plantam sementes, molham plantinhas e colhem frutos, que são usados no preparo do lanche. ;Gosto de mexer com a terra e falo para os meus pais o que aprendo na escola;, orgulha-se a estudante Maria Eduarda Guedes, de 6 anos de idade. ;Aprendi que não posso arrancar as plantas da terra nem gastar água;, ensina o coleguinha Diego Freire, 5, como quem entende do assunto.

O professor de educação ambiental da escola diz que a participação e o interesse dos pequenos é total. ;É muito importante ensinarmos os cuidados com o meio ambiente desde a infância.; A coordenadora da instituição, Ana Flávia Barros, afirma que o tema foi incluído na grade escolar há cinco anos. Além da horta, a educação ambiental é trabalhada de outras formas em projetos mensais da creche. ;Tudo o que é passado, eles praticam em casa. Para nós, é uma grande novidade, mas eles gostam e o aprendizado é 100%;, observa.

Nos colégios particulares, a educação ambiental já faz parte da rotina escolar. No Lago Norte, o Instituto Natural de Desenvolvimento Infantil tem uma horta pedagógica há 30 anos. As aulas na terra ocorrem a cada 15 dias com a turma de 2; ano do ensino fundamental, que também é responsável por cuidar do minhocário. ;Não tem mais como ficar por fora dessa discussão. As crianças precisam vivenciar a sustentabilidade e o cuidado com os seres vivos;, opina Renata Cardoso, coordenadora pedagógica do colégio.

Os maiores desenvolvem atividades mais complexas. Há, pelo menos, dez anos, as turmas do 6; ano acampam na chácara de permacultura do Instituto Ipoema. O passeio acontece uma vez por ano e, lá, eles aprendem a preservar o cerrado, a poupar água e conhecem a técnica do banheiro seco (sem uso de água). Também é prática do 7; ano fazer trabalhos no Parque Olhos D;Água, na Asa Norte. Segundo Renata, a novidade para este ano fica por conta do debate sobre o Protocolo de Quioto e a Rio%2b20, em que os alunos terão de sugerir soluções para os problemas ambientais.

Palavra de especialista
Visão social é necessária
;Tenho observado que, nos últimos dez anos, todas as instituições de ensino têm inserido, seja na grade curricular ou nos eixos temáticos, a temática ambiental. E ela vai ganhando muito espaço no ensino por ser um reflexo do mundo social e ser contemporânea. Porém, na lei federal que institui o Programa Nacional de Educação Ambiental (n;9795/99), recomenda-se que todas as áreas de ensino abordem a questão não como disciplina, mas de uma forma transversal. E o que vem ocorrendo é que vários temas relacionados ao meio ambiente têm ganhado destaque com o comportamento de indivíduo, mas sem olhar social. Acredito que a educação ambiental tem de abordar a macroestrutura e ir além do lixo e da horta. De forma geral, as escolas vêm trabalhando esses temas, mas de forma às vezes romântica, ambientalista e um pouco ingênua. A escola pode contribuir para dar um olhar diferente, uma postura diferente, ela é o local onde se adquire e se constrói os primeiros valores com relação ao meio ambiente.;
Irineu Tamaio,
professor de educação ambiental no curso de gestão ambiental, Câmpus Planaltina, da Universidade de Brasília (UnB)




Abordagem multidisciplinar
Alguns princípios da educação ambiental

; Enfoque humanista, holístico, democrático e participativo
; Interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade
; Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas
; Vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais
; Abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais

*Fonte: Política Nacional de Educação Ambiental

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