postado em 14/10/2012 12:00
O mundo enfrenta um modelo de superconcentração urbana, visível principalmente na Ásia. Hoje, o ser humano tem cada vez menos tempo para si e passa mais tempo em grupo. O grande desafio é humanizar esses conglomerados, de maneira a dar vida digna às pessoas que nela vivem. Essa é a maior preocupação do arquiteto Roberto Converti, do escritório Oficina Urbana ; ex-secretário de planejamento urbano de Buenos Aires e responsável pelo trabalho de modernização de Puerto Madero, o novo centro econômico da capital argentina.Para ele, o crescimento atingiu proporções inimagináveis e a população das maiores metrópoles ultrapassa a da maioria das nações. Para o arquiteto, a análise desse fenômeno deve incluir outra questão: o impacto de grandes massas que se deslocam por questões profissionais ou de lazer entre as cidades. ;Quando um transatlântico, como o Queen Mary, chega a uma cidade, ele acrescenta 10 mil pessoas à população, que irão demandar alimento, água, transporte, energia e movimentarão a economia local.;
Esses movimentos de massa tornaram-se globais e recebem impulsos diversos. A indústria cultural movimenta milhares de fãs que circulam atrás de seus ídolos. Mostrando imagens de praias sul-coreanas tomadas de banhistas, praticamente sem espaço livre na areia e na água, Converti destacou: ;Para quase todos que estão aí, será o momento especial de lazer que terão com suas famílias e amigos. Uma lembrança agradável de vida.;
Também lembrou que cidades turísticas recebem milhões de visitantes em datas especiais, como o ano novo. ;Fui à Time Square em uma dessas ocasiões e nada vi. Estava imerso em milhares de pessoas. O mesmo ocorre em Paris. O que vale não é participar da festa, mas a sensação de ter estado em Paris;, afirmou.
Fim das utopias
Segundo o arquiteto, na década de 1960, arquitetos e urbanistas acreditavam cegamente no planejamento. Brasília seria a forma máxima desse pensamento utópico. Hoje, as cidades sofrem os efeitos de um crescimento desordenado e estão envoltas em problemas de mobilidade e sociais. Há uma série de influências externas. Nas cidades europeias, massas de migrantes trazem elementos culturais externos que influenciam o dia a dia. São milhares de jovens que exigem participação na vida política e econômica do país.
Por outro lado, crescem as desigualdades e cenas antes pensáveis apenas no Terceiro Mundo podem ser vistas em Barcelona, Paris e Nova York. ;Há excluídos em todas as sociedades;, alertou.
A expansão não ocorre apenas de maneira verticalizada, as cidades se espraiam horizontalmente, ampliando as pressões sobre os sistemas de transporte coletivo e degradando a qualidade de vida. ;Os moradores passam boa parte de seu tempo planejando como irão da casa para o trabalho e do trabalho para casa e na execução dessa tarefa;, alerta Converti.;
Para evitar esse problema, ele defende o uso da requalificação de espaços e da descentralização da oferta de emprego, que empregou em vários projetos realizados na Argentina. Em um deles, feito para a cidade de Santa Fé, modificou o porto local, transformando-o em um centro de moradia, comércio qualificado, lazer e eventos especiais. ;A cidade fora afetada por uma enchente que tomara 70% da área urbana. Chamado pelo prefeito para enfrentar a situação, disse-lhe que devia aproveitar o momento para repensar o futuro;, recordou Converti. ;Ele aceitou, porque disse que todos os que havia consultado afirmavam que devia pensar apenas no presente.;
Concentração urbana
Algumas metrópoles possuem mais habitantes que a maioria dos países
Tóquio 34 milhões
Seul 24,6 milhões
México 23,4 milhões
Delhi 23,2 milhões
Mumbai 22,8 milhões
Nova York 22,2 milhões
São Paulo 20,9 milhões
Xangai 18, 4 milhões
Buenos Aires 15 milhões
Três perguntas para
Roberto Converti, arquiteto e urbanista argentino
Qual sua impressão sobre Brasília?
Uma cidade bela, em todo o trajeto que pude fazer, além do mais, é misteriosa, por que se imagina que há algo mais para se ver.
Qual a solução para a metrópole hoje?
Muita análise e trabalho com os cidadãos para se obter um consenso urbano.
Qual o futuro das cidades?
Um mistério. Depende da qualidade da governança para se organizar a cidade e a cidadania.