Juliana Braga
postado em 10/08/2012 04:05
Campo Grande ; Podia ser de glória, alegria, de gol. Mas o grito preso na garganta de Francisco tem a ver com medo e vergonha. ;Sinto muita raiva deles;, desabafa o garoto de topete no cabelo. Aos 12 anos, quando foi levado por um vizinho da família para jogar em uma escolinha de futebol próxima de casa, na periferia de Campo Grande, sentiu pela primeira vez a chance real de se tornar um ídolo dos gramados, como sonhara.
O homem que alimentava as esperanças do garoto ; com elogios, presentes e promessas ; era o mesmo que, vez por outra, ajudava os pais dele com algum socorro financeiro. Ficava difícil compreender por que o ;professor; tão generoso o despia, manipulava seu corpo, pedia que ele retribuísse os carinhos, por mais que Francisco tentasse demonstrar que não gostava daquela situação. Os abusos pioraram depois que o treinador chamou mais dois amigos, também instrutores de futebol, para participar das ;brincadeiras;.
;Já fiz sexo oral com os três juntos. Não entendia porque eles queriam aquilo, me sentia muito mal;, diz Francisco. A violência durou quase dois anos, até que o menino, já aos 15, mudou de endereço com a família. Longe do problema, o rapaz preferiu manter a história em sigilo para, um dia, se esquecer de tudo, da mesma forma que já nem se lembrava mais da vontade de ser um craque. No ano passado, porém, depois de ser preso em flagrante por abusar de duas crianças, José Martins de Santana, o ;prestativo; professor de 49 anos, listou para a polícia nomes de outras vítimas, recentes e antigas, algumas de apenas 5 anos.