Juliana Braga
postado em 12/08/2012 08:00
Eles se aproximam com promessas. Geralmente, procuram filhos de famílias humildes, garotos que veem na carreira desportiva não só o sonho de viver de futebol, mas também de ascensão social. Vêm com presentes, alimentam a expectativa de o menino se tornar um ídolo e, depois de conquistada a cumplicidade das crianças e o respeito da família, a violência começa. Em todo o país, os abusadores que atuam no esporte agem da mesma maneira. Aproveitam-se dos sonhos, das fragilidades e do medo de um estigma.
Favores financeiros são uma das formas que os pedófilos usam para garantir a confiança da família. Esmeralda estranhou quando o vizinho Osvaldo Guides Camargo, o Bozó, se ofereceu para levar o filho de 11 anos, Guilherme, para treinar na escolinha onde lecionava em Sorocaba (SP). ;Disse que não tinha dinheiro para pagar as aulas, mas ele disse que levaria de graça;, conta Esmeralda. Surpreendeu-se quando o menino começou a aparecer com pequenas quantias em casa ; entre R$ 5 e R$ 10. ;Fui perguntar pro Bozó que dinheiro era aquele e ele disse que era porque meu filho tinha ajudado a lavar o carro. Eu mandei o Guilherme devolver. Quem tem que dar dinheiro para ele sou eu.; Ainda assim, não desconfiava de abusos.
Esse tempo é ganho, principalmente, pelo medo de os garotos admitirem a agressão. A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, explica que, no caso de meninos, o relato passa ainda por tabus relacionados à sexualidade. ;Estamos lidando com uma dimensão cultural perversa, em que o que está colocado em questão não é só a situação do abuso em si, mas também as circunstâncias de construção da masculinidade;, pontua. Quando os jovens atletas precisam sair de casa atrás da carreira, tornam-se presas indefesas. ;A ida para outras cidades, sob a responsabilidade de outros adultos, é preocupante. Não deixa de ser uma forma de agenciamento a busca do menino na periferia de uma grande cidade ou no interior, para dizer que ele vai ser um craque em um time.;