Mais que o remelexo dos dançarinos de kuduro, é consenso de especialistas e estudiosos acreditar que parte do sucesso de Avenida Brasil deve-se fatores externos ao vocabulário especializado como dramaturgia, atuações, boa direção e bom desempenho técnico. A professora do Departamento de Cinema, Rádio e Tevê da ECA-USP e autora do livro Brasil antenado: a sociedade da novela, Esther Hamburguer, acredita que além do bom desempenho técnico, o texto da trama se desdobra em variadas interpretações, maiores do que questões sociais latentes.
;Os personagens acrescentam soluções interessantes para dramas que envolvem discriminação e preconceitos. A novela tematiza o assunto quando o crescimento da classe C é muito comentado nos mais variados espaços, dos cabeleireiros aos seminários acadêmicos internacionais. Mas a questão social não é a única. A trama brinca com arranjos familiares heterodoxos e assim problematiza de maneira inusitada temas sensíveis como o homossexualismo e o adultério;, reflete a especialista.
O m ais recente fenômeno da teledramaturgia brasileira é tido como uma continuidade no trabalho de João Emanuel Carneiro, autor da novela, responsável por modernizar a linguagem sem abandonar elementos primários. Uma das marcas do autor é embaralhar os papéis de vilãs e mocinhas, alterando a percepção dos telespectadores ao longo da trama. ;Em A favorita (2008), sempre existiu a dubiedade em relação a quem era a vilã e a mocinha. No caso de Avenida Brasil não há dúvida em relação aos papéis. No entanto, Carminha (Adriana Esteves) é uma vilã que todo mundo quer ver. Ninguém a odeia, querem apenas acompanhar seus próximos passos. Assim como não sentem pena da Nina que está longe de ser uma heroína ipsis litteris;, classifica o mestre em comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) Cláudio Ferreira.
Audiência
De acordo com Ferreira, Avenida serviu para quebrar um paradigma midiático em formação. ;Muita gente vinha preconizando o fim da televisão e da novela por causa da internet. Avenida mostra que a fórmula tem fôlego sim. Mesmo que a audiência geral esteja caindo, as pessoas podem continuar ligadas em telenovela. Basta fazer algumas pequenas modificações no gênero;, opina.
Claro, nem tudo no roteiro da novela é 100% original ou extraordinário. Para dar fôlego ao desfecho da trama, cujo clímax foi exibido uma semana antes do gran finale, o novelista usou um velho truque conhecido dos brasileiros: o famoso ;Quem matou alguém?;. A dúvida em torno do homicídio de Max (Marcello Novaes) é apenas a cereja de um bolo confeitado no capricho e deverá ser o responsável por parte do banzo que os brasileiros sentirão assim que o mistério for revelado. ;Embora a questão ;quem matou; polarize o debate no final, a resposta a essa pergunta é a menos importante já que não tem consequências. Não há capítulo do dia seguinte. É com a falta da novela ; e do assunto ; que as pessoas vão se deparar;, avisa.