Se estivesse vivo, Renato Russo estaria morando fora do Brasil. Possivelmente, nos Estados Unidos ou na Inglaterra. A idealização é de André Marques de Sá, amigo do legionário entre fins dos anos 1970 e 1996. Já a cineasta Maria Coeli, ex-professora de Renato Manfredini Jr., tem apenas uma certeza: o aluno ilustre estaria fazendo caridade. ;Ele gostava muito de ajudar as pessoas;, diz. Ao colega de farras Marcelo Beré, Renato confidenciou certa vez que iria escrever um livro quando fizesse 50 anos. Hoje, ele teria 52.
A revelação do Correio de que Renato escrevera, em 1982, a nunca encenada peça A verdadeira desorganização do desespero, na edição de ontem, não surpreendeu André e Marcelo. Embora desfrutassem de intensa convivência com Manfredini àquele período, os amigos desconheciam a existência do material. Contudo, poderiam supor que o multifacetado artista tentaria se enveredar também pelas artes cênicas, afinal, ele queria engolir o mundo. Maria Coeli desconfia que o texto pode ter sido feito para a disciplina dela, no Ceub.
Foi o dia em que o punk encontrou o teatro, como o sugere o selo criado para acompanhar a série de reportagens sobre o tema ; uma referência à icônica canção God save the Queen, dos Sex Pistols. Neste caso, seria God save Shakespeare, uma brincadeira com o mais conhecido dramaturgo da história.
O Renato que estampava as páginas de jornais, falava à tevê e esmiuçava suas angústias em letras de canções é notório. Mas André, Maria e Marcelo o conheceram antes da fama, quando ainda era apenas Manfredini, antes de o mito se tornar mito. E o acompanharam até os últimos suspiros de vida. Russo morreu em 1996, aos 36 anos. ;Até nisso ele foi precoce;, comenta Beré. A emersão da peça do artista é também um convite para que os companheiros fiéis relembrem trechos de suas trajetórias com o ídolo.