Na casa dos Manfredini, tudo remete a Renato Russo. Dos discos de ouro que adornam as paredes às capas das almofadas que ocupam os sofás. Foi nesse ambiente que Giuliano Manfredini, herdeiro do cantor e compositor, cresceu. Educado pela avó (que chama de mãe) e pela tia, o jovem de 23 anos sempre esteve envolto pelo legado do pai. A condição especial nem sempre favoreceu o cotidiano do menino que tinha apenas 7 anos quando Renato morreu.
Cobranças, comparações, exposição. Por outro lado, o privilégio da intimidade com um ícone do rock nacional. O litígio interno parece ter alcançado um harmônico consenso. Giuliano se tornou porta-voz dos assuntos oficiais relacionados ao pai e à Legião Urbana.
Entre as canções favoritas da banda, ele costuma citar Perfeição, Monte Castelo e Metal contra as nuvens, e demonstra autoridade ao discorrer sobre o repertório de Renato, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos. Está acostumado a responder sobre os méritos do grupo. Não imaginava, porém, que seria indagado sobre as qualidades cênicas do pai.
A peça
Somente em 2009, Giuliano tomou conhecimento da existência da peça A verdadeira desorganização do desespero, escrita por Renato em 1982. A primeira leitura do material aconteceu na casa do dramaturgo Fernando Villar, que foi procurado por um antigo e íntimo amigo do Renato, a quem foi confiada a única cópia do texto de 39 páginas (duas estão desaparecidas). Em conversa com o Correio, Giuliano revelou as circunstâncias e as reações experimentadas ao saber que o pai ; cantor, compositor e poeta ; também aspirava ser dramaturgo. Mesmo que por um breve momento.